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Uma pesquisa da Unicamp descobriu que o pigmento roxo chamado violaceína, extraído de uma bactéria encontrada no Rio Amazonas, consegue neutralizar a proteína que facilita a progressão de células cancerígenas do intestino. A descoberta pode levar a um tratamento com base na inibição dessa proteína.

O estudo, desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, em parceria com uma cientista do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi publicado em revista científica internacional neste semestre.

Segundo a pesquisadora Alessandra Faria (à esquerda na foto e ao lado da profa. Carmen Ferreira-Halder do Departamento de Bioquímica e Biologia Tecidual do IB, ambas integrantes da equipe responsável pela pesquisa), apesar do estudo ter focado em tumores de intestino, a descoberta também tem potencial em cânceres no esôfago, estômago, próstata e a leucemia mielóide crônica, já que a proteína estudada facilita a progressão da doença nestes órgãos.

A pesquisadora explica que estudos anteriores haviam revelado que a proteína tirosina fosfatase de baixo peso molecular (LMWPTP), importante para o funcionamento de células, é encontrada em grande quantidade em pacientes com câncer de intestino e no fígado daqueles que já tinham metástase (quando a doença progride para outro órgão)

Além disso, a LMWPTP também foi verificada em grande volume no sangue destes pacientes. Segundo Faria, é por meio da corrente sanguínea que as células cancerígenas avançam no organismo.

Portanto, os pesquisadores descobriram que a proteína, apesar da importância para o organismo, também favorece o avanço do câncer quando há células tumorais. Outra observação foi de que a maior quantidade da LMWPTP também prejudica tratamentos contra a doença.

“A LMWPTP tem vários efeitos. Nós vimos que pode atrapalhar tratamento do câncer, pois a maior quantidade de LMWPTP em células de leucemia indica resistência a quimioterapia; vimos que a maior quantidade promove disfunção da mitocôndria e que também atrapalha a resposta a tratamento; vimos que LMWPTP altera proliferação das células tumorais”, explicou.

Mas o que a bactéria tem a ver com isso?

Outra pesquisa da Unicamp já havia revelado os efeitos promissores da violaceína, molécula roxa extraída da bactéria Chromobacterium violaceum, na inibição de células cancerígenas.

O grupo de pesquisadores, então, combinou o estudo da violaceína com as descobertas sobre a proteína LMWPTP e percebeu que a molécula é capaz de neutralizar a proteína facilitadora da progressão das células cancerígenas.

Isso ocorre, segundo a pesquisadora, porque a violaceína interage no sítio ativo da LMWPTP. “Ou seja, de fato onde LMWPTP interage com outras proteínas”, explicou Alessandra Faria.

A pesquisa, liderada por Carmen Ferreira-Halder, foi desenvolvida por Emanuella Fonseca, Patrícia Fernandes-Oliveira, Stefano Clerici, Leonardo Silveira, Nelson Durán, Tanes de Lima e Giselle Justo, além de Alessadra Faria.

Segundo ela, o avanço dos estudos sobre a proteína LWMPTP já é acompanhado pela indústria farmacêutica.

“A ideia é desenhar um inibidor específico para a LWMPTP. Existe um inibidor para LMWPTP em testes, a patente é americana, então indica que a indústria está acompanhando os próximos capítulos dessa pesquisa”, completou Faria.

Efeito maior nas células cancerígenas

Mas, se a proteína LWMPTP é importante para organismo, como evitar que um eventual tratamento com a violaceína reduza os índices a ponto de prejudicar os pacientes?

Alessandra Faria, que é PhD em medicina molecular, afirmou que os testes feitos até agora mostram que há uma dosagem que neutraliza apenas as células cancerígenas sem “matar” as sadias. Esta parte do estudo segue em andamento e ainda não foi publicada.

“Essa parte da pesquisa é a mais impressionante: células tumorais são mais sensíveis a violaceína do que células normais. Nós estamos testando violaceína em células normais, e as células continuam vivas mesmo em concentração que mata células tumorais”.

Fonte: g1

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