sucen

Os casos da dengue dispararam em todo o território nacional desde o início de 2022. No Brasil a doença soma mais de 540 mil casos. Em São Paulo os registros até agora superam 153,3 mil casos, com mais de uma centena de óbitos. São José do Rio Preto e Votuporanga estão entre as cidades mais atingidas pela dengue no país. O estado apresenta 398 casos/100 mil habitantes, condição que indica um elevado risco da transmissão dos vírus causadores da doença. Estamos em um momento delicado, de epidemia e da possibilidade do agravamento da situação.

Não temos uma vacina adequada para o controle eficiente da doença e muito menos condições técnicas que bastem para o desenvolvimento de atividades essenciais de controle e acompanhamento da situação. A maioria dos municípios paulistas não dispõe de equipes de campo e laboratório suficientes para a coleta e identificação dos mosquitos, diagnóstico de casos e para a atuação na vigilância ambiental e sanitária com ações centradas na descoberta e eliminação dos criadouros do Aedes aegypti e para o acompanhamento das variações das densidades populacionais dos mosquitos.

É de notório conhecimento que as condições climáticas relacionadas com as chuvas e temperatura são determinantes da proliferação dos mosquitos, porém ainda são desconhecidos os demais fatores que certamente determinam variações das densidades e da presença de criadouros em maior ou menor quantidade.

Assim como as demais espécies, também a dos vetores da dengue sobrevive sob a influência de múltiplos determinantes ecológicos, que extrapolam as condições de temperatura e das precipitações das chuvas. Por tudo isso, o controle da dengue em limites suportáveis exige o planejamento e desenvolvimento permanente de ações e atividades diversas, direcionadas principalmente para os vetores, uma vez que não temos nem vacina, nem tratamentos específicos para a doença.

Aqui em São Paulo, o combate à dengue e vetores da doença acontece de maneira organizada desde meados de 1985. Até 2020, ano da extinção, a SUCEN atuou no controle da dengue em parceria com os municípios, na busca de conhecimentos técnicos e científicos e nas intervenções ambientais, com a aplicação de inseticidas na tentativa de minimização dos riscos de transmissão da doença.

Com a extinção da SUCEN, o estado perdeu em todas as frentes. As equipes de campo e laboratório da instituição acabaram pulverizadas por diferentes instâncias e níveis de governo, dificultando as chances da articulação e organização das ações de controle e vigilância da dengue. Extinta, tendo como principais justificavas a necessidade da redução de despesas e com o discurso que a manutenção da SUCEN não se sustentava porque a responsabilidade das ações e operações de campo é dos municípios, restou a completa desorganização e o evidente descontrole da situação.

Na contramão da redução das despesas, paradoxalmente, o governo responsável pela extinção da SUCEN anunciou recentemente a criação da Secretaria da Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, com o propósito do desenvolvimento de políticas e programas destinados a melhoria das condições de saúde dos paulistas. É uma medida que levanta suspeitas sobre seus reais objetivos.

Enquanto isso, a população, como sempre, volta a ficar vulnerável diante de uma doença que há muito estava controlada no estado de São Paulo.

Horácio Manuel Santana Teles é pesquisador da Superintendência do Controle de Endemias (SUCEN).

Compartilhar: