micoteca

A microbiologia apresentou, a partir do século XIX, um grande desenvolvimento o que acarretou o reconhecimento da importância para a humanidade, dos fungos, vírus, algas e bactérias. Com esse desenvolvimento, tornou-se imprescindível a criação de coleções de culturas com a finalidade de pesquisa e estudos de tais organismos quanto à taxonomia, patologia e, ainda, para fins industriais, no que se refere ao conhecimento da biologia e fisiologia.

No que concerne aos fungos existem, atualmente, inúmeras coleções de culturas fúngicas no mundo inteiro, que propiciaram a criação de uma Federação Mundial de Coleções de Culturas. Podem ser citados como coleções mundialmente importantes o IMI (International Mycological Institue) Kew, Inglaterra; a ATCC (American Type Culture Collection) Maryland, EUA; o CBS (Centraalbureau voor Schimmelcultures) Baar – Delft, Holanda; Institute For Fermentation (IFO), Osaka, Japão; Japan Collection of Microorganisms (JCM) Wako, Saitama, Japão; Mycotheque De L’Universite Catholique de Luvaim (MUCL) Luvain-le-Neuve, Bélgica; German National Resource for Biological Material (DSMZ), Alemanha, entre outras.

No Brasil, pouca coisa tem sido feita neste sentido. O que realmente existe são algumas coleções em institutos de pesquisa e universidades, como a coleção do Prof. Lacaz no Hospital de Medicina Tropical de São Paulo, na Fundação Fiocruz, Estado do Rio de Janeiro, principalmente de fungos da área médica; a coleção da Universidade Federal do Recife; a coleção do Instituto de Botânica que inclui organismos. Provavelmente, a mais expressiva coleção existente no País seja a do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), cujo início se deu em 1954, com a criação do seu herbário. Na década de 90 foi implantado pelo INPA o Programa de Coleções e Acervos Científicos (PCAC) que reúne coleções contendo exemplares da biodiversidade Amazônica, no que se refere à Zoologia, Botânica e Microbiologia. A coleção microbiológica reúne duas curadorias: uma de interesse médico e outra de interesse agrosilvicultural, armazenando esta última 1.830 culturas de fungos xilófagos e fitopatogênicos www.inpa.gov.br/colecoes/colecoes.php .

Há, também, a coleção do Instituto Biológico – Micoteca “Mário Barreto Figueiredo” – São Paulo, SP, iniciada em 1961, a partir de pequenas coleções particulares na então denominada Seção de Micologia Fitopatológica. Cada pesquisador mantinha sua própria coleção, gerando inconvenientes para pesquisa e consulta.

A partir de 1964, o Dr. Mário Barreto Figueiredo começou a organizar a coleção, reunindo isolados de fungos que originaram a micoteca propriamente dita. Atualmente, existem na Micoteca cerca de 600 culturas que correspondem a 82 gêneros e 73 espécies, sendo a maior parte de interesse fitopatogênico. Estes fungos são de várias procedências do Brasil e, principalmente, do Estado de São Paulo sendo uma pequena parte proveniente de coleções de outros institutos de pesquisa nacionais ou do exterior. A grande maioria pertence aos grupos Deuteromycota (fungos mitospóricos ou de reprodução assexuada) e Chromista (Oomycota) e, alguns poucos, Ascomycota. Em menor número, encontra se, também, Basidiomycota (Corticiaceae), como Rhizoctonia.

O principal método de preservação destas culturas em laboratório, no início, era o de repicagens periódicas ou método clássico, que consiste na transferência de pequena porção de fungo+meio, a cada três ou quatro meses, para novos tubos de ensaio contendo meio batata-ágar-dextrose (BDA). O referido método, além de representar um trabalho exaustivo, também resulta em problemas tais como: perda da viabilidade, mudanças fisiológicas e morfológicas (aspecto e coloração das culturas), decréscimo e/ou perda da capacidade de esporulação, declínio e, posteriormente, perda da patogenicidade. Posteriormente, foram introduzidos o método de Castellani ou água destilada e a liofilização. A partir de 2002, parte da coleção passou a ser preservada, também, em óleo mineral.

Esta coleção de culturas tem por finalidade a pesquisa, o ensino e a manutenção desse pequeno patrimônio biológico, porém de grande importância para a Patologia Vegetal. Constantemente novos isolados são incorporados à coleção, objetivando o aumento do número de exemplares, bem como a ampliação da diversidade dos espécimes. Nos últimos anos, desde 2000, foram incorporados a esta coleção cerca de 170 novos isolados provenientes de cidades do Estado de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e de algumas poucas cidades do Nordeste brasileiro.

Recentemente, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) concedeu um financiamento à coleção, o que possibilitou a compra de novos equipamentos, dentre os quais um freezer -80ºC e um botijão para nitrogênio líquido. Estes equipamentos irão permitir a implantação de novos métodos de preservação em laboratório.

As culturas constantes da micoteca, além de serem utilizadas para estudos em laboratórios do próprio Instituto Biológico, constantemente são solicitadas por outros laboratórios de pesquisa e Universidades, inclusive internacionais, demonstrando a necessidade de se manter este patrimônio. Antes do envio das culturas, são realizados testes para verificar a eficiência dos métodos, que devem manter, mesmo após longos períodos, viabilidade, capacidade de esporulação e patogenicidade.

Embora o método de Castellani tenha sido desenvolvido originalmente para a preservação de bactérias, a partir de 1967 passou a ser utilizado pelo Dr. Mário Barreto Figueiredo para a preservação de culturas fúngicas fitopatogênicas. Desde então, resultados positivos vêm sendo obtidos como, por exemplo, a preservação da patogenicidade de Macrophomina phaseolina Colletotrichum fragariae pelo referido método por, respectivamente, 29 e 38 anos.

Porém, convém salientar que diferentes gêneros e espécies de fungos fitopatogênicos não respondem igualmente ao mesmo método utilizado para preservação em laboratório, não havendo, portanto, um único que seja recomendado para a ampla gama de patógenos existentes.

Fonte: Instituto Biológico
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