Pesquisadores questionam laudo que recomenda extração de árvores em bosque de Campinas
Um grupo de estudos sobre a arborização urbana de Campinas (SP) levantou questionamentos sobre o laudo que apontou a necessidade de remoção de 108 árvores do Bosque dos Jequitibás. Dentre os pontos está a identificação precária das espécies. Dois dos membros que fizeram a vistoria indicaram que há espécies que devem ser mantidas.
O grupo é formado por engenheiros florestais, professores, pesquisadores e técnicos de entidades como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Coordenador da Rede Sudeste de Jardins Botânicos, o biólogo José Ataliba Mantelli Aboin Gomes defende que o laudo sequer nomeia as árvores e referencia as fotos. Segundo ele, são 141 fotos sem legenda, o que impede o entendimento.
“Um laudo muito mal redigido, sem identificação e sem seguir a legislação municipal que adota uma série de parâmetros que têm que ser apresentados para suprimir uma árvore. Então desde o nome científico, diâmetro, altura, coordenada geográfica, a identificação da espécie”, resume.
Já a prefeitura argumenta que o objetivo foi identificar o comprometimento das árvores e não fazer um Inventário Florestal, no qual devem constar dados como a espécie, o diâmetro, os nomes científico e popular, entre outros.
Apresentado pela Secretaria Municipal de Serviços Públicos, o laudo que indicou a necessidade das árvores tem as assinaturas do diretor do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), vinculado à pasta, e pela diretora técnica ambiental.
Além deles, assinam o documento um engenheiro florestal, um engenheiro ambiental e dois biólogos. O laudo foi produzido após a morte de um técnico em eletrônica atingido por uma figueira branca de 35 metros que caiu durante um temporal em 28 de dezembro do ano passado.
Documentos obtidos pelo g1 via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que, nos últimos cinco anos, a prefeitura só realizou laudo técnico sobre as árvores do Bosque dos Jequitibás após a queda de uma figueira branca.
78,3% das árvores sem identificação
O laudo indica 111 árvores que precisam de manejo. Além das 108 que devem ser removidas, três precisam de poda. Dessas, 55 aparecem como não identificadas e outras 32 como secas. Somente 23 possuem o nome da espécie. Uma foi identificada como “podas gerais”. Somadas as plantas indicadas como “não identificadas” e “secas”, 78,3% das árvores analisadas não tinham nome científico ou popular.
A prefeitura afirma que, por causa do risco iminente de quedas de árvores e o tempo para as análises, a prioridade foi avaliar os riscos. “Os materiais botânicos como folhas, flores e sementes das árvores serão coletados e enviados ao Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), órgão do governo do Estado de São Paulo, para identificação detalhada das espécies que não foram identificadas in loco”, completou.
Há um mês, dois membros do grupo de estudo foram convidados pela Comissão Especial de Estudo sobre Arborização Urbana da Câmara de Campinas para realizar uma vistoria no bosque com o objetivo é formalizar um “contralaudo”.
O biólogo José Ataliba Mantelli Aboin Gomes é um dos que estiveram no local. “Várias árvores devem ser preservadas. Existem mecanismos para realizar isso através de suporte. A gente sugeriu um exame de tomografia além do exame visual por serem exemplares importantes”, disse.
Em nota, a prefeitura afirma que foram levantadas 108 árvores que apresentam, na avaliação visual individual ou de grupo de árvores próximas, o risco de queda, de acordo com a Norma ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 16246-3 – nível 1.
A administração afirma que foram avaliados os locais de trânsito mais intenso dos usuários (pista de caminhada, trilha) e ao redor das instalações físicas (museu, praça de alimentação, parquinho). “No laudo há fotos das árvores que apresentam risco e algumas de detalhes ou outro ângulo dos mesmos exemplares, o que resultou em um número final maior de imagens”, disse a prefeitura.
O biólogo questiona a análise apenas visual e disse ter se colocado à disposição para realizar um exame de imagem. “Esse exame visual que foi realizado é muito subjetivo. Agora, um exame técnico feito através de imagem, uma ressonância também de raiz, é indiscutível”, afirmou.
Como manter as árvores?
O engenheiro florestal e agrônomo José Hamilton de Aguirre Junior, mestre em arborização urbana, participou da vistoria. Ele ressalta a importância do fragmento ambiental, que é tombado como patrimônio histórico. “Há árvores com condições de preservação, que elas sejam assim mantidas (…) As que têm condições de preservação por alguma metodologia específica, por exemplo, análise por tomografia, uma sondagem de raízes ou uma colocação de suporte adicional para segurança dela, a gente vai tentar fazer isso porque aqui o objetivo é também educativo”.
A prefeitura afirmou que a remoção das árvores terá início após a aprovação da extração pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). Além disso, que será feito o plantio de mudas de espécies nativas do bioma Mata Atlântica, conforme lista indicada pelo Instituto de Botânica, da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura.
Com informações do G1