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           O pesquisador do Instituto Agronômico (IAC) de Campinas, José Alberto Caram de Souza Dias, realizou na última sexta-feira (17/08) uma visita técnica ao Sítio Palmeiras, do produtor agrícola Mauro Cezar Dinardi, no município de Bebedouro. Na ocasião, Caram apresentou para autoridades a tecnologia do plantio de batatas-semente feito a partir dos brotos do próprio tubérculo – tecnologia desenvolvida por ele e que há três anos vem sendo aplicada por Dinardi.

         Estiveram presentes, entre outros, o Secretário da Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Francisco Jardim, o prefeito de Bebedouro, Fernando Galvão Moura, e Juninho Trevisan, diretor do Grupo Trevisan, investidor e parceiro na implantação da tecnologia em Bebedouro. “Hoje o Sítio Palmeiras ostenta uma produção de quase um milhão de minitubérculos gerados a partir de brotos que, antes, eram descartados pelos produtores e pela indústria”, explicou Caram.

        Segundo ele, além de batatas-sementes livres de vírus, a tecnologia inovadora garante ao produtor redução de custos e aumento na produção. Isso ocorre, nas palavras do pesquisador, porque os produtores que aderiram à técnica passaram a necessitar cada vez menos, ou a não necessitar, da importação de sementes de batata de países como Holanda, Alemanha e França. “Os pequenos produtores que adotaram a nossa tecnologia passaram a produzir suas próprias batatas-sementes”, contou.

         Para o Secretário da Agricultura, Francisco Jardim, o trabalho desenvolvido pelo pesquisador do IAC vem causando uma “revolução silenciosa no agronegócio”. Ele ressaltou ainda a importância da pesquisa científica na busca por soluções que garantam a soberania e o desenvolvimento nacional: “Estamos muito orgulhosos e otimistas com relação ao futuro dessa tecnologia, pois certamente ela será adotada em escala mundial, reduzindo a dependência do Brasil”, disse.

        O produtor Mauro Cezar Dinardi comemorou o pioneirismo da experiência em Bebedouro e afirmou que a técnica de Caram o “salvou” após um período de crise econômica que quase o obrigou a vender a propriedade. “Confiei no projeto do Dr. Caram e o Grupo Trevisan me deu respaldo. Hoje estamos produzindo minitubérculos em oito estufas e vamos chegar a doze até o fim do ano. É uma grande vitória”, afirmou.

Entenda como funciona a tecnologia do broto da batata-semente

            Conforme explica o pesquisador José Alberto Caram, a técnica é simples e reduz os custos de produção em cerca de 40% (o equivalente à despesa com a compra das batatas-sementes importadas). O plantio é feito com o broto da própria batata-semente, que geralmente é descartado na produção convencional. “É comum que o produtor, antes de plantar a batata-semente importada, jogue fora os brotos. Nós aproveitamos justamente estes brotos que iam parar no lixo”, explica.

         O broto é plantado e continua se desenvolvendo para dar origem, mais tarde, a pequenas batatas (minitubérculos). Estas pequenas batatas serão, por fim, utilizadas como sementes e darão início ao cultivo no campo definitivo. “Temos enfrentado oposição das grandes empresas estrangeiras que exportam batatas-semente ao Brasil, mas vamos adiante. Ciência é sinônimo de persistência”, diz.

          Segundo o pesquisador, cada broto dá origem, em média, a três minitubérculos e cada um destes, por sua vez, dá origem a uma planta. “A grande descoberta que fizemos é a de que centenas de milhares de brotos, que são destacados dos tubérculos livres de vírus, também estão livres de vírus e suportam transporte de longas distâncias para serem utilizados como ‘sementes’ na tecnologia do IAC”, diz.

          Entre as vantagens da técnica está o fato de que os brotos são livres de vírus e, portanto, garante ao produtor tubérculos de alta sanidade. “A técnica permite uma drástica redução das viroses nos cultivos e toda a despesa que elas exigem para o seu controle, dispensando, por exemplo, a aplicação de agrotóxicos”, afirma.

            Por conta deste trabalho, o pesquisador do IAC recebeu, em 2015, o prêmio Josué de Castro na categoria pesquisa científica, concedido pelo Governo do Estado de São Paulo. O prêmio tem o objetivo identificar e difundir iniciativas voltadas à formulação de soluções concretas para o combate à fome e a promoção da segurança alimentar e nutricional. Caram é considerado ainda o pioneiro no mundo em experimentos que comprovam o potencial de brotos destacados de tubérculos como “material de propagação”.

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