amazonia

Na última segunda-feira, 5 de setembro, foi comemorado o Dia da Amazônia. Apesar da data ter sido instituída somente em 2007, a escolha do dia 05/09 se deu por ser quando, em 1850, o Amazonas se tornou uma província autônoma. Mesmo com sua força histórica e importância para o País, para especialistas não há o que comemorar: o alto índice de desmatamento e a ausência de políticas públicas têm colocado a Amazônia num alerta de sobrevivência.

“A Amazônia é um dos ecossistemas que mais estão sendo atacados pelo atual governo e pelas atividades ilegais e criminosas”, alerta o vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Paulo Artaxo. “É importante a gente perceber que a Amazônia virou uma região onde o crime organizado, a invasão de terras públicas, a invasão de áreas indígenas, os garimpos ilegais e a exportação ilegal de madeira se tornaram as atividades que mais dominam hoje o cenário econômico da região. Isso tem que mudar, a Constituição Brasileira tem que começar a valer também na Região Amazônica e a gente tem que deixar de ter as milícias controlando a economia.”

Artaxo cita alguns cenários em que a Amazônia é essencial e impacta diretamente a vida humana, como as mudanças climáticas e, consequentemente, o maior reservatório de carbono de todos os ecossistemas terrestres. “É fundamental que a sociedade brasileira tenha a consciência de que existe a possibilidade de um desenvolvimento que seja sustentável para a região, onde o Brasil possa aproveitar a biodiversidade que existe lá e preservar a cultura e os povos originários”, complementa.

Para a bióloga e professora da Universidade de Brasília, Mercedes Maria da Cunha Bustamante, a comemoração do Dia da Amazônia deve ser convertida em mais um alerta sobre o avanço do desmatamento, da degradação dos ecossistemas e da desativação das políticas públicas de proteção do bioma e seus povos:

“A Ciência tem sido clara ao aporte de evidências crescentes sobre a perda de resiliência dos ecossistemas amazônicos frente aos impactos ambientais locais e globais e como isso já compromete os esforços para combater a mudança do clima e a perda de biodiversidade. A Amazônia deveria ser um ponto central nas agendas de candidatos políticos de todo País, se considerarmos que as consequências de sua exploração predatória terão repercussão ampla em todo o território. Mesmo com a política federal desastrosa para o bioma, podemos observar a força de movimentos da sociedade civil para contrapor tal política e mostrar que outros caminhos são possíveis”, pondera.

Sementes são histórias do passado e respostas o futuro

Para o presidente de honra da SBPC e diretor do Museu da Amazônia (Musa), Ennio Candotti, a Amazônia é um livro aberto da história da vida e, para entender o passado e salvar o futuro, é necessário olhar para suas sementes.

“As sementes guardam a memória da história. Pesquisar sementes não deve ser algo voltado apenas pelo valor econômico, mas por elas possuírem informações determinantes para entender a vida do planeta. Guardar e conhecer sementes é um imperativo ético, e armazená-las atende a diferentes necessidades, como em casos de desastres ambientais.”

Candotti destaca que devemos refletir o valor climático da região, mas os debates não devem se pautar essencialmente por este tema. “Precisamos pensar a diversidade botânica de mais de 300 milhões de anos. A Amazônia é o berço da civilização humana.”

Paulo Artaxo complementa que a Região Amazônica é estratégica para o futuro do planeta, e destaca o ciclo hidrológico do País, que sustenta o agronegócio. “A Amazônia tem que ser preservada da melhor maneira possível, para que a nossa sociedade e as gerações futuras não venham a se arrepender do enorme erro que é destruir um ecossistema tão rico quanto que nós temos em nosso País”, conclui.

Fonte: Jornal da Ciência

Compartilhar: