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O jornal El País informa que, no Brasil, o Coronavírus está atingindo muito mais pessoas jovens do que na Europa e EUA, onde a maioria dos casos é de pacientes acima dos 60 anos. A médica Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), declarou à repórter Beatriz Jucá que “no Brasil, a covid-19 vai rejuvenescer”. Segundo ela, “a distribuição da população brasileira é diferente da europeia. Não temos o percentual de idosos que tem a Itália ou a Espanha. É natural que a doença se distribua majoritariamente entre jovens. A distribuição demográfica no Brasil dará à doença características brasileiras. Além disso, o vírus sofreu mutações e já se adaptou ao país”, disse Dalcomo.

Segundo o jornal, por esse motivo, algumas capitais iniciaram nesta semana a testagem em larga escala de pessoas com suspeita de coronavírus a fim de dimensionar a extensão do contágio. Como Florianópolis, com 72% dos infectados no grupo de 20 a 59 anos. A capital catarinense tem a sexta maior incidência de covid-19 do país, 50% acima da média nacional, e foi classificada em nível de emergência pelo Ministério da Saúde.

Pessoas com menos de 60 anos são as mais infectadas pela doença no Brasil, elevando o número de internações entre as camadas mais jovens da população e sobrecarregando o sistema de saúde. O Ministério da Saúde não detalha os casos por idade, mas, de acordo com levantamentos das secretarias locais, os estados brasileiros em situação de emergência registram percentual maior de contaminados e hospitalizados abaixo dos 60 anos do que Estados Unidos, Espanha e Itália. Os números contrariam a tese de que a doença não teria tanto impacto entre a população mais jovem.

A faixa etária com mais infectados pela covid-19 (40%) em São Paulo vai dos 20 aos 39 anos (4.420 pessoas). Os menores de 60 anos representam 77% que, segundo a Secretaria Estadual da Saúde, correspondiam a quase metade (49%) das internações em estado grave pela doença até o fim da semana passada e a 21% dos óbitos.

Os governos não divulgam dados sobre as comorbidades dos jovens infectados sobreviventes, como diabetes ou problemas do coração, por exemplo. No Rio, na última terça-feira, a vítima mais jovem no Estado, Kamilly Ribeiro, de 17 anos, não tinha qualquer doença prévia. O percentual de doentes jovens no Brasil supera o de países como os Estados Unidos, que lideram o ranking mundial da pandemia, onde 26% das hospitalizações por Coronavírus em UTIs situavam-se na faixa entre 20 e 54 anos em 20 de março último.

Na Espanha e na Itália, países mais afetados da Europa, a taxa de infectados abaixo dos 60 anos é de 44,7% e 43,9%, respectivamente. Dentre os espanhóis, 14,5% estão na faixa de 20 a 39 anos (menos da metade de São Paulo). Porém, tanto na Espanha quanto na Itália, o grupo maior de 60 anos conforma mais de 25% da população. No Brasil, eles representam 14%. Apesar do risco de morte ser maior após os 60 anos (73% dos óbitos no país), os jovens já representam a maior demanda atendimento no sistema de saúde em vários estados.

Na Bahia, a média dos infectados é de 39 anos. A faixa etária mais atingida (29%) é a de 30 a 39 anos, seguida pela de 50 a 59 anos. Segundo a secretaria da Saúde local, “o risco de contrair a covid-19 passou a ser maior entre os adultos jovens”. No Ceará, 60% está na faixa dos 20 aos 49 anos. O grupo com maior proporção em internações por covid-19 é o de 50 a 59 anos (entre os homens) e de 40 a 49 anos (entre as mulheres), sendo que 59% das hospitalizações envolvem pacientes com menos de 60 anos.

“Temos a demonstração cabal de que a doença atinge pessoas jovens e pode ser fatal para essa faixa etária. Todos devem estar em alerta durante a epidemia”, afirma André Longo, secretário de saúde de Pernambuco, que, em menos de uma semana, registrou a morte de um adolescente de 15 anos e um bebê de sete meses por Coronavírus. A média de idade dos infectados no Estado é de 37 anos. Em Recife, quase 80% dos leitos de UTI já estão ocupados.

Em entrevista coletiva, o médico infectologista Jailson Correia, secretário da Saúde da capital pernambucana, chamou a atenção para o papel dos mais jovens na sobrecarga dos hospitais. “A doença tende a ser mais grave a partir dos 60 anos, o que não quer dizer que os jovens estejam imunes. O vírus está levando a quadros graves na parcela mais jovem da população. Permanecer em casa significa proteger a si próprio e à família”, afirmou Correia, reafirmando a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que ressalta os grupos de jovens adultos como vetores de transmissão do Coronavírus e, sobretudo, potenciais pacientes por agravamento das complicações da doença.

Em São Paulo, a taxa de isolamento na capital paulista ainda está abaixo da meta ideal para evitar o colapso dos hospitais que, segundo o governo, é de pelo menos 70%. Mesmo diante do decreto de situação de emergência na cidade, pessoas mais jovens seguem ocupando avenidas e ciclovias para a prática de atividades físicas.

No Rio de Janeiro, a taxa de mortalidade da doença em pessoas com menos de 60 anos (30%) é duas vezes maior que a de São Paulo. Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, todos os leitos de terapia intensiva para pacientes com covid-19 já estão ocupados. “Existe uma falsa sensação de segurança entre as pessoas jovens. Mas o vírus também tem se comportado de maneira agressiva nesses pacientes, que ainda podem se tornar vetor de contaminação em casa”, diz Edmar Santos, secretário estadual de saúde.

A faixa etária mais infectada pelo Coronavírus no Rio de Janeiro é a de 30 a 39 anos, mas há casos de hospitalização e morte em idade inferior.

Com informações do Núcleo de Comunicação Técnico-Científica do Instituto de Saúde

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