A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou, na noite de ontem (10), a interrupção do estudo clínico da vacina Coronavac pelo Instituto Butantan. A decisão se deu no mesmo dia em que o governador de São Paulo, João Doria, anunciou que o primeiro lote do imunizante, contendo 120 mil doses, chegaria ao estado no dia 20 de novembro. Em sua justificativa, a Anvisa alegou que foi verificado um “evento adverso grave” no processo de testes da vacina, mas sem especificar qual.

Em resposta, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, afirmou estar “surpreso” com a medida e disse que o óbito de um voluntário que teria participado dos testes – caso que possivelmente motivou a decisão da Anvisa – não tem qualquer relação com os estudos clínicos da vacina. “São mais de 10 mil voluntários nesse momento. A pessoa pode ter um acidente de trânsito e morrer. Isso em nenhum momento deveria interromper um estudo clínico.”, argumentou. Covas disse ainda que iria solicitar um esclarecimento detalhado por parte da Anvisa.

Com isso, os testes com a vacina da Sinovac (chamada CoronaVac) ficam suspensos por tempo indeterminado no Brasil e nenhum voluntário poderá ser imunizado até que a investigação da Anvisa seja concluída. Recentemente, o diretor do Instituto Butantan manifestou a preocupação de que a vacina contra o novo coronavírus fosse levada ao centro de uma disputa política entre o governo federal e o governo estadual de São Paulo.

No dia 21 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro derrubou um acordo de cerca de R$ 2 bilhões do Ministério da Saúde para a aquisição de 46 milhões de doses da CoronaVac. O acordo havia sido anunciado no dia anterior, mas foi cancelado por Bolsonaro, possivelmente, por conta de seu desacordo político com Doria. Ele disse ainda que o governo federal não comprará nenhuma vacina oriunda da China, mesmo que seja aprovada pela Anvisa. “Da China nós não compraremos. É decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população pela sua origem.”

Depois disso, começaram a circular em grupos de WhatsApp e nas redes sociais mensagens de ódio contra o Instituto Butantan e o governo da China, além de teorias conspiratórias das mais absurdas. Termos como “VaChina” e “Fraudemia” chegaram rapidamente aos trendig topics do Twitter. Em resposta, o governo de São Paulo afirmou que “a vacina do Butantan é a vacina do Brasil, de todos os brasileiros” e pediu a Bolsonaro que tivesse “grandeza para liderar o país” durante a pandemia, e que evitasse contaminar o combate à pandemia com uma disputa ideológica.

O Butantan agendou uma entrevista coletiva nesta terça-feira, às 11h (horário de Brasília).

Confira a íntegra da nota do Butantan
“O Instituto Butantan esclarece que foi surpreendido, na noite desta segunda-feira, com a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que está apurando em detalhes o que houve com o andamento dos estudos clínicos da Coronavac. O Butantan informa ainda que está à disposição da agência reguladora brasileira para prestar todos os esclarecimentos necessários referentes a qualquer evento adverso que os estudos clínicos podem ter apresentado até momento.”

dimas
Dimas Tadeu Covas é diretor do Instituto Butantan

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