azanuzzoEm 31 de julho foi comemorado o Dia Internacional dos Guarda-Parques. Estes profissionais compõem a linha de frente da defesa das áreas naturais. Atuam na prevenção e combate a incêndios, protegem a fauna dos caçadores e as árvores da extração ilegal, orientam trilheiros, auxiliam na pesquisa científica e conhecem a área que atuam como ninguém.

No exercício de sua função, estes profissionais enfrentam bandidos com armas de fogo e perigos naturais diversos. Alguns perdem a vida.

O biólogo Felipe Zanusso, doutorando em Meio Ambiente e Sociedade no Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade de Campinas (Unicamp), com o objetivo de contar a história destes trabalhadores imprescindíveis para a proteção da natureza, e que nem sempre são valorizados, criou o livro/blog Guarda-Parque: histórias das nossas matas.

O livro/blog apresenta a história de pessoas ímpares que atuam na profissão, como por exemplo Maroka, a primeira Guarda-Parque mulher da história do estado de São Paulo. São narradas situações de tensão, como quedas em buracos, ou mesmo engraçadas, como quando um infrator teve uma dor de barriga no momento da abordagem.

Para saber um pouco mais, entrevistamos o pesquisador Felipe Zanusso e ele nos contou sobre a iniciativa e esta profissão tão importante para o meio ambiente.

O que é o Guarda-Parque?
Os Guardas-parques podem ser definidos como aqueles profissionais capacitados para atuar diretamente nas unidades de conservação (UCs) e nas respectivas zonas de entorno. Além de receber e orientar visitantes, têm como atribuições também monitorar trilhas; prevenir e combater incêndios florestais; apoiar a fiscalização de desmatamentos e outras infrações ambientais; realizar ações de busca e salvamento; realizar atividades de educação e interpretação ambiental; manejo de fauna; apoio à pesquisa científica e, ainda, desempenhar ações de caráter socioambiental junto às comunidades do entorno das UCs.

O último concurso realizado no Estado de São Paulo estabelecia as seguintes atribuições: “Fiscalizar e proteger o patrimônio ambiental; Verificar e vigiar os núcleos e bens móveis e imóveis das Unidades de Conservação; Efetuar conservação das estruturas e núcleos de apoio das UCs; Orientar e monitorar o público nas atividades relativas à visitação pública e outros; Fazer o atendimento de emergências de primeiros socorros aos usuários das Ucs; Executar outras tarefas que se incluam, por similaridade, no mesmo campo de atuação”.

Ou seja, eles são nossos verdadeiros protetores do patrimônio coletivo, cuidando diariamente de áreas protegidas e de seus recursos naturais, bem como na atenção e orientação constante de seus visitantes.

O que te motivou a iniciar este projeto de resgate da história destes profissionais?
Apesar da importância da profissão, muitas vezes esses profissionais são pouco reconhecidos e valorizados. Em meus primeiros estágios no Mosaico de UCs da Juréia-Itatins, entre 2006 e 2007, aprendi muito escutando os Guarda-Parques daquela área e desde então valorizo e reconheço sua importância. Ficava impressionado com as histórias e já pensava que deveriam ser divulgadas. Quando trabalhei na Fundação Florestal do Estado de São Paulo, de 2012 a 2017, junto com outros colegas, participamos de diversas ações para apoiar sua valorização no âmbito institucional.

Em 2015 e 2016 visitei alguns áreas protegidas no Estados Unidos e pude conhecer como o Sistema Nacional de Parques daquele país respeita seus Rangers! Existem diversas atividades, materiais e publicações inspirados na profissão, como o livro que comprei lá, chamado “Oh, Ranger! True Stories from Our National Parks”.

De volta ao Brasil, percebi que deveríamos fazer algo neste sentido, mesmo que mais simples, considerando que em São Paulo a história dos Guarda-Parques é bastante antiga e cheia de “causos” interessantes.

Em julho de 2018, lançamos o Blog, marcando nossa participação e envolvimento com o Dia Mundial do Guarda-parque, uma iniciativa da Federação Internacional de Guarda-Parques, promovida juntamente com seu braço beneficente oficial, The Thin Green Foundation.

O Livro/ Blog “Guarda-Parque: Histórias fantásticas das nossas matas” é uma realização de um coletivo. Somos um grupo de entusiastas e interessados na função que o Guarda-Parque exerce na gestão das áreas protegidas. O objetivo é divulgar e contribuir com o reconhecimento dessa importante profissão no Estado de São Paulo.

É uma parceria do Movimento Conservatio – Cultura de Áreas Protegidas (do qual sou o coordenador), dos Amigos do Museu Florestal e da Associação de Guardas-Parques de São Paulo. Para nós foi uma grande honra poder registrar e divulgar um pouco das histórias de nossos guardiões da biodiversidade.

Os Guardas-parques foram convidados a compartilhar suas trajetórias profissionais, conhecimentos e experiências através do preenchimento de um formulário bem resumido.

Gostaríamos de fazer algo mais completo, como um livro mesmo. O Blog foi uma forma de começarmos e fazermos de uma forma simples.

Quantos Guardas-Parques temos atuantes em São Paulo e no Brasil?
No âmbito do Estado de São Paulo, segundo informações do Portal da Transparência, temos os seguintes números:

Fundação Florestal – 53 Guardas-parques ativos, em cerca de 14 unidades de conservação;
Instituto Florestal – 95 Auxiliar de serviços gerais dos quais alguns atuam na fiscalização*.
Além desses, em virtude da ausência da realização de concurso público, uma das estratégias tem sido a contratação de vigilantes patrimoniais terceirizados. Apesar de não atuarem “oficialmente” como Guarda-Parques, em muitas situações eles acabam colaborando na fiscalização das UCs.

Recentemente, inclusive, um vigilante foi morto por criminosos em uma ação de fiscalização contra uma mineração ilegal dentro do Parque Estadual Intervales (SP),

A partir de informações obtidas pelo Conselho de Representantes de Funcionários da Fundação Florestal em 2015 através da Ouvidoria da instituição, existiam cerca de 269 postos de vigilantes patrimoniais contratados por através de serviços terceirizados.

Muitos Guarda-Parques relatam a precarização e falta de reconhecimento da profissão no blog. Como você vê o futuro da profissão em SP e no Brasil, levando em conta a situação atual e as diferentes experiências em outros países?
Infelizmente essa é uma realidade que atinge não só os Guardas-Parques, mas toda a estrutura de gestão das áreas protegidas.

Por serem a ponta da linha, ou seja, aqueles que estão nos territórios, que dependem de recursos para implementar diariamente a política pública de conservação da natureza, eles acabam sendo mais afetados pela “cadeia de gestão”.

A falta de reposição e de ampliação do número dos profissionais é muito negativa. Porque não é uma profissão que você pode aprender em uma escola. A aprendizagem, o conhecimento, a formação ocorre no dia-a-dia, na interação com os colegas, na vivência, na experiência.

Apesar do cenário político muitas vezes nos desanimar, eu sou um otimista. Acredito que ainda vamos ter uma carreira para os Guardas-Parques, com salários adequados à importância da profissão.

E que um dia possamos ter Guardas-Parques no comando dos órgãos públicos responsáveis pela conservação ambiental.

* A Lei Estadual nº 1.080/2008 dá nova denominação a mais de 20 carreiras do estado, transformando todas em auxiliar de serviços gerais .

Fonte: Paulo Andreeto de Muzio, para o Blog da Unicamp

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