fernanda faria
A bióloga Fernanda Faria, do Instituto Butantan

Hoje, 3 de setembro, é comemorado o Dia do Biólogo, em referência aos profissionais que se dedicam a estudar e trabalhar com a vida e os organismos vivos, sejam plantas ou animais, vírus ou células. No Instituto Butantan, os biólogos são especialistas que atuam não somente nos cuidados com os animais peçonhentos e venenosos, como também em laboratórios de pesquisa e até nas fábricas de soros e vacinas.

Para esta edição do Butantan Notícias pedimos que duas biólogas compartilhassem suas experiências de acordo com os locais em que atuam: na produção de vacinas e em bancada de pesquisa.

Além de mostrar essas formas de atuação em biologia no IB, também contamos a história de um colaborador cuja família tem o amor pela biologia em comum.

Fernanda Faria, bióloga no Laboratório de Biologia Molecular

A partir das glândulas salivares de sanguessugas e carrapatos, Fernanda Faria estuda moléculas que trabalham na coagulação sanguínea, em agregação plaquetária e inflamação, com o objetivo de encontrar novas moléculas para medicamentos que tratem diversas doenças.

“Eu sempre tive uma paixão pela área de biológicas, por isso decidi fazer biologia. No segundo ano da faculdade, eu estava de férias e buscando algo para fazer, então vim bater na porta do Laboratório de Fisiopatologia e comecei um estágio com a Ana Marisa Chudzinsk. Fiz minha Iniciação Científica com ela, depois fiz o mestrado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e o doutorado também. Em 2003, eu prestei um concurso para pesquisador e em 2004, após defender meu doutorado, assumi como pesquisadora no Laboratório de Bioquímica, que mais pra frente se transformou no de Biologia Molecular. Sabendo que sou bióloga, todo mundo olha para mim e pergunta sobre plantas. Apesar de admirar a natureza, a atividade em campo nunca me atraiu muito, eu sempre gostei de ficar na bancada mesmo, desde a faculdade. Quando vim para o Butantan, a proposta do trabalho contava com um pouco de exercício de campo. Era uma pesquisa com sanguessugas, então eu ia a campo para buscá-las em uma fazenda de criação de búfalos, no Rio Grande do Sul, que tinha diversos açudes. Então, tínhamos que entrar nos açudes junto com os búfalos, esperar elas grudarem na gente e assim coletar. Mas isso não era muito agradável. Hoje em dia, já não preciso do animal, nem de coletar ele em campo, pois já montamos um banco de sequências que me permite construir proteínas recombinantes por meio de clonagem. Ser bióloga para mim é estudar a vida, temos diversas áreas de atuação e, na minha, eu busco novidades para melhorar a vida humana e até animal, através das moléculas que estudamos. Nessa profissão eu sou feliz e me realizo. Eu sempre morei na região do Butantã, então visitava bastante o IB e desde pequena falava que viria trabalhar aqui um dia. Então eu realizei um sonho.

Eu tenho orgulho de todos os meus trabalhos e do fato de termos esse banco de moléculas de duas espécies de sanguessugas, de uma espécie de carrapato e de uma lagarta também. Então, o trabalho que foi empenhado no desenvolvimento desse bancos é algo que me orgulha bastante.

Para quem está na biologia eu digo que não pode ter medo de arriscar, de buscar algo novo, tem que ir atrás dos sonhos. Dizem que é uma área não muito bem paga, mas eu acho que em tudo o que fazemos por amor conquistamos grandes feitos, eu acho que vale a pena. Tenho uma sobrinha que fez biologia e hoje está na Bélgica fazendo mestrado, na área de biologia marinha, então estimulo que as pessoas façam e busquem o que querem.”

Rosana Paoli bióloga na producão da vacina contra dengue

Há 30 anos, Rosana trabalha no Instituto Butantan, com vírus e vacinas a partir da cultura de células. Sua carreira é formada pela participação em projetos importantes como da vacina contra a raiva, rota vírus, influenza e zika vírus.

“Na escola, eu sempre gostei da área da saúde, gostava mais de estudar ciência, era uma matéria que sempre me chamou mais a atenção. No colégio eu também tive aula em laboratório, então tive contato antes com esse universo, e me identifiquei muito durante essas aulas. Na época do vestibular cheguei a cogitar medicina, mas escolhi biologia. Nas aulas, as matérias de microbiologia, genética e fisiologia humana sempre me chamavam mais a atenção. Na faculdade, eu tive aula com o Professor Canter, que nos avisou de vagas de estágios abertas no Butantan. Eu estou no Butantan desde 1989 trabalhando com vírus e vacinas. Em março deste ano fiz 30 anos de casa. Entrei, como estagiária, para trabalhar no laboratório que na época trabalhava com vírus neurotrópicos, e que depois virou e seção da vacina contra a raiva. Neste setor tinha a parte de cultura de células e fui direto trabalhar com isso. Passei por todos os setores dentro da produção da vacina mas me identifiquei mesmo com a cultura celular. Ajudei no desenvolvimento da vacina da raiva em cultura de células Vero, que são de rins de macacos, com a Neuza Frazatti. Trabalhei com ela por 20 anos. Em 2006, veio o projeto rotavírus e trabalhei no desenvolvimento de produção desta vacina em cultura celular. Em 2009, ajudei no startup da vacina influenza, mas desta vez saí da área de cultura celular para trabalhar com o ovos de galinha. Em 2015, quando iniciou o projeto zika vírus fui chamada para participar do desenvolvimento da vacina em cultura de célula. Em 2017, fui chamada para vir para a produção da vacina contra a dengue, dessa vez também com cultura celular. Nunca fui muito amiga de trabalhar com os animais diretamente. A cultura de células foi, para mim, uma novidade, nunca tinha visto antes. Aquilo me despertou algo e eu percebi me dei bem. Cultivar células não é para todos, a gente costuma dizer que tem que “ter mão” para fazer isso, elas não se multiplicam com qualquer pessoa. Você chega até a conversar com elas. Eu me sinto muito realizada porque, hoje, embora eu tenha pensado em fazer medicina, vejo que trabalho para salvar vidas, pois fazer vacinas significa isso, então eu sou realizada profissionalmente. O IB é uma escola, é muito bom trabalhar aqui, pois além de desenvolvimento, eu estou na produção das vacinas também. O que me encanta na profissão é o desafio, o novo, a expectativa com os projetos, se perguntar se vai dar certo. É o desafio do desconhecido. Com o projeto da vacina contra a raiva em cultura celular, nós ganhamos um prêmio, então é gratificante ver que seu trabalho está sendo reconhecido. Todo dia é um desafio novo, a cada produção de lote de vacina liberado é uma vitória. Ser um biólogo é aprender todo dia, seja dentro do laboratório, seja dando aula ou na produção de algum produto, é sempre um aprendizado e é preciso estar sempre atualizado, pois sempre haverá um novo equipamento e novas tecnologias. A biologia é uma profissão que tem muitos campos de atuação, então ao fazer a faculdade, você pode se encontrar em várias áreas. Para mim, biologia é observar todo dia, descobrir coisas novas. É sobre a vida.”

Família Dias Ho

O gosto e a paixão pela biologia também são encontradas em algumas famílias quando tios, pais ou filhos compartilham essa escolha seja de forma espontânea ou com alguma influência. No caso da família Dias Ho, o acaso e a influência trabalharam juntos, pois, foi durante a faculdade de Ciências Biológicas, que Paulo Lee Ho, pesquisador do Serviço de Bacteriologia do IB, conheceu a esposa June Ferraz Dias, docente do Instituto Oceanográfico da USP. Juntos eles tiveram as gêmeas Joana Dias Ho e Paula Dias Ho, hoje com 24 anos e formadas também em biologia (não por acaso na mesma faculdade que os pais frequentaram). Joana também faz parte hoje da grande equipe de biólogos do Butantan. Ela faz mestrado no Laboratório de Bacteriologia.

“Indiretamente acho que recebemos a influência dos nossos pais. Nós admiramos muito eles e a biologia sempre esteve muito presente em nossas vidas. Minha mãe que é bióloga marinha, quando nos levava para a praia, sempre mostrava os peixes, falava dos camarões e mariscos, e meu pai também. A gente sempre via ele aqui no Butantan, ouvíamos ele falar das pesquisas. Até no jantar eles ficavam discutindo coisas da área”, contou Joana. Ao ouvir Paulo dizer sobre sua escolha por biologia, feita há 35 anos, não é difícil entender o porquê da filhas também optarem pela área. “O que me encanta na biologia são as possibilidades, as belezas, são as surpresas, porque entender uma pecinha da vida é muito gratificante. A gente também tem um viés social muito forte, por isso estamos no Butantan, para poder retornar à sociedade o que a sociedade nos deu. Então, trabalhamos para isso, para dar esse retorno em forma de um produto que vai chegar à população ou na forma de um conhecimento fundamental, que vai ajudar a sociedade a construir melhor as suas possibilidades”, finaliza Paulo.

Fonte: Caroline Roque, do Instituto Butantan

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