Coronavírus: produtores recomendam adiamento da colheita de café no Brasil
Às vésperas do início da safra de café robusta (conilon) no Brasil, produtores têm traçado estratégias de prevenção ao coronavírus que podem incluir o atraso nos trabalhos, solidariedade entre produtores vizinhos e maiores cuidados para contratação de mão de obra.
Embora haja consenso no setor de que as lavouras são um ambiente de menor risco que as cidades para a disseminação da doença, cooperativas e instituições ligadas aos produtores já se mobilizam com a publicação de cartilhas sobre formas de combater a doença no maior produtor e exportador global de café.
E alguns até recomendam, à medida do possível, um adiamento dos trabalhos, com o objetivo de eventualmente deixar para trás o pico da doença no país e obter melhor qualidade, realizando então a colheita de um maior número de grãos maduros, chamados “cerejas”, mais valorizados no mercado.
“Estamos pedindo para o produtor esperar um pouco mais pra colher o café. Se o produtor colher o café um pouco mais à frente, ele terá um percentual de cereja maior, aí vamos melhorar ainda mais a qualidade”, disse à Reuters o pesquisador Abraão Carlos Verdin Filho, coordenador técnico de cafeicultura no Incaper, o órgão de assistência técnica do Espírito Santo.
“O ideal é que tenha de 60% a 80% de cerejas nos pés, para iniciar a colheita e não ter perda de qualidade”, disse ele, avaliando que, se a colheita –que poderia começar em meados de abril– for adiada em 30 dias, esse seria o tempo para passar o que muitos chamam de período mais dramático da contaminação pelo coronavírus no Brasil.
O Espírito Santo é o maior produtor brasileiro de café robusta, chamado conilon no país, com safra estimada em mais de 10 milhões de sacas de 60 kg.
O preço do café tem se sustentado no mercado, diferentemente de muitas commodities, ainda que o Brasil deva colher uma grande safra este ano, pois há preocupações sobre como a colheita poderá ser escoada em tempos de coronavírus.
No caso do conilon do Espírito Santo, a atividade de colheita é mais manual ou semimecanizada em algumas áreas e poderia representar um risco maior em relação ao vírus, não fosse pelo fato de grande parte dos produtores desse tipo de café ser pequena, o que restringe os trabalhos ao núcleo familiar, defendem especialistas.
Além disso, o robusta deve representar somente cerca de 25% da safra total brasileira, estimada pelo governo em até 62 milhões de sacas.
No caso do arábica, cuja produção pode somar até 46 milhões de sacas este ano, os trabalhos só se iniciam em maio ou junho, e a colheita é mecanizada em sua maioria, o que dá mais tempo e alguma segurança para se lidar com o Covid-19.
O pesquisador do Incaper observou ainda que, diferentemente do arábica, o grão de café robusta não descola facilmente dos ramos, o que também dá ao produtor mais tempo para a colheita.
O pesquisador ressaltou também que, em termos agronômicos, não haverá problema nenhum, até porque, por uma feliz coincidência, as temperaturas foram mais amenas ao longo da safra, naturalmente resultando em uma safra com amadurecimento mais tardio que o normal.
“A agricultura no Brasil não parou, e o café não vai ser diferente, se a gente conseguir segurar um pouco mais, talvez a gente consiga passar esse momento mais difícil e teria um efeito positivo, que seria colher um café de melhor qualidade.”
Para Luiz Carlos Bastianello, presidente da Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), a maior do Espírito Santo, uma possível forma de enfrentar o coronavírus pode ser a solidariedade entre produtores vizinhos, reduzindo a necessidade de mão de obra de fora, minimizando os riscos.
“Temos observado que o produtor está com medo, não sabemos como ele vai reagir… Então, para passar este momento, é a solidariedade de mão de obra, precisamos resgatar isso, o vizinho que termina a colheita mais cedo, ajuda o outro”, disse ele, ressaltando que essa era uma estratégia comum no passado.
Cerca de 80% do quadro de 6 mil cooperados da Cooabriel envolve agricultura familiar. “Este tipo de compartilhamento de mão de obra é muito importante, não sabemos onde isso vai parar, e há muitas pessoas que estão em casa e vão precisar fazer dinheiro”, disse ele, lembrando que muitas atividades não essenciais nas cidades estão fechadas.
Rondônia
O engenheiro agrônomo Enrique Alves, da Embrapa Rondônia, do Estado produtor do chamado “robusta amazônico”, disse que alguns produtores de variedades muito precoces já iniciaram os trabalhos.
Mas, ainda assim, disse ele, esses poucos que realizam a atividade agora estão se precipitando e formando lotes com muitos grãos verdes, o que não é o ideal.
“Tem algumas pessoas já colhendo, a grande maioria café fora do padrão de colheita. Tem colheita, mas não é representativo, a colheita começa na segunda quinzena de abril e o mês forte é maio”, relatou Alves, ponderando que a recomendação é adiar
“A atividade agrícola não tem como parar, não tem como dizer não vou colher. Se não colher, ninguém bebe café, o que posso fazer é, se posso esperar para colher o café mais maduro, e me organizar melhor, isso eu vou fazer, são estratégias…”, comentou o agrônomo de Rondônia, em linha com a avaliação do pesquisador do Espírito Santo no contexto do coronavírus.
A produção em Rondônia também é desenvolvida em sua maioria por agricultores familiares, diferentemente de parte importante da produção de arábica, realizada em grandes propriedades.
Para o presidente da Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, como a colheita de arábica só começa na segunda quinzena de maio o setor terá mais tempo de lidar com as preocupações relacionadas ao coronavírus.
Segundo ele, se há maiores cultivos de arábica, o que acaba demandando mais mão de obra, essa variedade tem a vantagem de contar com colheita mecanizada na maior parte das áreas.
“Temos tempo para ver como vai ser o comportamento da doença…”, disse ele, acrescentando que neste ano o setor deve conseguir a liberação antecipada dos recursos de 5,7 bilhões de reais do chamado Funcafé, o que pode trazer mais tranquilidade para o produtor organizar a atividade neste momento de crise.
Fonte: Money Times
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