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A parceria entre a pesquisa e a extensão rural para a difusão de tecnologias é atividade antiga e sempre utilizada pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a qual procura sempre fortalecer integração entre pesquisadores ligados aos Institutos que compõem a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e extensionistas da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS). Não foi diferente quando o pesquisador José Alberto Caram de Souza Dias, do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, e o engenheiro agrônomo Idoraldo Dassi Gonçales Júnior, da Casa da Agricultura de Tupã, vinculada à CDRS Regional Tupã, se uniram para apresentar uma nova proposta aos produtores rurais da região: o cultivo de batata em terras de clima reconhecidamente mais quente e normalmente não apto para a cultura.

Uma proposta e um desafio para pequenos produtores rurais − orgânicos, convencionais e agroecológicos − que estavam em busca de alternativas. “Normalmente, os produtores de batatas são de grande porte, que adquirem as batatas semente importadas dos mais variados países, como Holanda, Escócia, Chile, França, Canadá, enfim, do extremo norte e extremo sul, mas todas regiões de clima temperado no verão, quando é feito o cultivo, e um inverno com frio e neve, condições que reduzem as viroses transmitidas por insetos a perto de zero. Isso não acontece nos climas tropical e subtropical, onde os plantios podem ser feitos o ano todo, mas estão mais sujeitos a todo tipo de doença causada por vírus. Por isso, o Brasil e outros 70 países importam as batatas-sementes”, explica Caram de Souza Dias, que mantém e divulga a pesquisa com brotos de batata-semente desde 1985, quando foi feita a primeira divulgação da tecnologia.

O objetivo foi incentivar os pequenos produtores ao cultivo da batata, fugindo da importação e com redução de custos de produção que chegam a 40% do total. A primeira divulgação na região de Tupã, que não é área tradicional de cultivo de batata, ocorreu durante o 52.º Ciclo de Palestras “Álvaro Santos Costa”, quando foi oferecido a 32 agricultores interessados o curso “Cultura da Batata e Tecnologia IAC do broto/batata-semente”, em abril do ano passado.

O curso contou com partes teórica e prática, sendo a primeira realizada na sede da CDRS Regional Tupã, para abordar a “Introdução à Bataticultura (técnicas de preparo do solo, adubação, calagem, condução, tratos culturais) e a “Tecnologia de propagação de batatas-sementes a partir do broto”, com orientações técnicas voltadas aos sistemas agroecológico e convencional. A parte prática foi realizada na Chácara Nossa Senhora Aparecida, localizada no Bairro Sabiá, em Tupã.

“O intuito era que os produtores se organizassem e, decidindo investir na bataticultura, pudessem produzir e ter autonomia em relação à obtenção das suas próprias batatas-semente, livre de vírus”, conta Caram, que apresentou os minitubérculos livres de vírus, produzidos a partir do broto, e permitiu, na ocasião, que 28 produtores interessados pudessem iniciar os experimentos, sendo 12 de linha agroecológica, dois orgânicos com certificação e 14 convencionais. Desses, 22 são do município de Tupã, três de Lucélia, um de Iacri, um de Parapuã e outro de Queiroz.

“Nos disponibilizamos, neste primeiro momento, a verificar se os novos brotos realmente estariam livres de vírus, pois é preciso que sejam produzidos sob telado, em substrato, sobre bancadas, sem contato com o solo. A princípio, de forma simples, não sendo necessários grande estrutura e investimento por parte do produtor”, esclarece Caram, afirmando: “O intuito é que trabalhem de forma cooperativa, escolhendo um para produzir batatas-sementes para todos ou formando uma associação, ou, ainda, solicitando apoio de prefeituras para a construção de um barracão telado para a produção; enfim, é preciso que tenham a consciência da importância da produção de suas próprias batatas-sementes, livres de vírus, porque, uma vez infectado, o tubérculo já não poderá ser usado como semente, pois degenera, inviabilizando a produção. Por tal motivo, estamos fazendo os testes nesses experimentos, para que possam dar início a uma produção sustentável”, afirma o pesquisador, que é vinculado ao Setor de Virologia do Centro de Fitossanidade do IAC.

Segundo Idoraldo Junior, infelizmente, com a pandemia, foi necessário cancelar o curso deste ano (2020), que daria continuidade ao trabalho, tirando as dúvidas, incentivando outros produtores e apresentando os primeiros resultados dessa parceria para difusão de tecnologia. “Mas os trabalhos a campo serão retomados assim que for possível”, frisa o técnico.

É o que espera o produtor agroecológico Wilson Dias. Contador por formação, Wilson trabalhou durante anos em sua área, mas, depois de uma experiência caseira com a agricultura, “tomou gosto”. Há seis anos voltei do Pará para São Paulo, comprei uma propriedade em Tupã e resolvi investir em agroecologia. “Eu me encontrei na agricultura, fiz diversos cursos, tanto pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) quanto pela Casa da Agricultura de Tupã. Sou um entusiasta da agroecologia e quero alçar novos voos”, diz Wilson. Quando se refere aos voos, não é no sentido figurado, Wilson conta que o aeroporto de Tupã foi privatizado e logo realmente serão disponibilizados voos de 40 minutos, para São Paulo. “Meus produtos ainda vão chegar na capital!”, diz entusiasmado.

Esse mesmo entusiasmo ele teve com o resultado das batatas-sementes que utilizou em sua área após o curso oferecido por Idoraldo e Caram. O resultado foi excelente, resultando em batatas de excepcional qualidade. “A minha intenção realmente é reunir os produtores agroecológicos em uma associação e termos uma casa de vegetação que nos forneça as sementes, não só de batata, mas de outros produtos, já que a certificação agroecológica pressupõe que as sementes sejam produzidas no mesmo sistema. Somos muito unidos, só falta mesmo formalizar”, disse.

Por alguns aspectos a pandemia adiou os planos; por outros, o isolamento fez com que todo o grupo de oito produtores agroecológicos esteja produzindo e vendendo muito mais. “A clientela aumentou, percebo as pessoas cada vez mais preocupadas com uma alimentação saudável e, realmente, essa tecnologia do broto-batata-semente apresentada no ano passado abriu novas possibilidades”, afirma o produtor, que espera novas capacitações oferecidas pela Secretaria de Agricultura para o próximo ano.

A Tecnologia IAC do broto-batata-semente

Normalmente, ao observar as batatas/tubérculos, podemos notar que elas, com o passar do tempo, emitem brotos. Milhares desses brotos acabam sendo perdidos, descartados quando tem início o plantio dos tubérculos para uma nova safra. Pois é justamente esse material ‒ os brotos perdidos ‒ que pode ser utilizado para a produção das batatas-sementes. Verificando que estão livres de vírus, eles são plantados em vasos e irão originar novos minitubérculos, que serão transplantados no campo, criando um círculo de produção. “O importante é serem brotos sadios, livres de vírus, e devem ser escolhidos os melhores para o plantio ‒ os maiores e mais bonitos ‒, que se destacam pela qualidade, para que a produção também venha a ter essa qualidade genética”, explica Caram.

A própria produção de batatas-sementes para venda pode ser uma alternativa para um produtor que tenha interesse em fornecer aos demais. Já para os pequenos produtores é economicamente inviável adquirir via importação, seja ele convencional ou orgânico. O Brasil depende da importação, mas Caram e Idoraldo, parceiros nessa difusão de tecnologia, acreditam que para o pequeno produtor que queira uma alternativa com a produção de batatas, a produção em forma de condomínio de agricultores para a produção de batatas-sementes em uma casa de vegetação para esta finalidade é um caminho fundamental.

“É preciso criar uma cadeia entre produtores/extensão/pesquisa e, dessa forma, a Secretaria de Agricultura proverá o incentivo e o suporte necessários para iniciarem uma nova atividade. “Podem começar de maneira simples, primeiro dominar a técnica para viabilizar a produção segura. Se, de cada 10 tubérculos, o produtor vender nove e escolher um, apenas aquele para dar início à produção de novos tubérculos, ele já terá novos tubérculos para plantar no próximo ciclo, o produtor não ficará dependente, vai utilizar o recurso que tem, isso é a base da sustentabilidade”, se entusiasma Caram.

As batatas-sementes produzidas pelo IAC ‒Aracy, Aracy Ruiva, Itararé, Vitória,Ibitu-açú ‒são ideais para os cultivos agroecológico e orgânico, mas existem outras variedades comerciais bem conhecidas como Àgata, Asterix e Atlantic. O engenheiro agrônomo Idoraldo Junior tem acompanhado os agricultores no campo, ajudando a implantar o cultivo da batata na região.

Não só a tecnologia IAC do broto-batata-semente foi levada como alternativa aos agricultores da região de Tupã. Também por meio de uma parceria com a APTA-Polo Itararé, a extensão rural buscou variedades de batatas, mais rústicas, citadas acima e, portanto, mais adequadas para adaptação na região, para incentivar o cultivo. “Este ano, 20 produtores vêm realizando os testes com tais variedades, resultado das parcerias com a pesquisa, sendo nove de linha agroecológica, quatro orgânicas com certificação e sete convencionais”, conta o agrônomo.

A região de Tupã, segundo Idoraldo, tem tradição no cultivo de amendoim e mandioca para indústria, importantes na produção agrícola; as culturas da soja e batata-doce vêm crescendo na região, ao lado de grandes culturas consolidadas, como a cana-de-açúcar; já na atividade pecuária, destaca-se a bovinocultura de corte.

Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento

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