Ciência que salva vidas
A pandemia provocada pelo vírus SARS-COV-2 expôs a face da ciência que resolve problemas, que salva vidas, que é indispensável. A sociedade reconheceu sua importância.
Ficou e permanecerá marcante a atuação de nossas instituições na área da saúde, mas a importância dos institutos públicos de pesquisa vai além. Não se limita à contenção de uma pandemia, inúmeros outras ações foram desenvolvidas ou estão em andamento. São anos de história dos Institutos de Pesquisa, alguns, inclusive, centenários, que trabalham em prol da sociedade gerando riquezas, sustentabilidade, saúde pública e igualdade social. Viabilizaram grandes arranjos agroindustriais ligados à citricultura, ao café, à cana -de-açúcar, soja, algodão entre outros, todos de importância indiscutível do ponto de vista do emprego e da economia. Suportam tecnologicamente à viticultura, à produção de hortifruti de tão variadas espécies. A produção de amendoim, feijão, borracha da seringueira, de florestas plantadas de espécies de importância econômica para produzir madeira, papel e outros. Viabilizam tecnologicamente a proteína animal, pela aquicultura, suinocultura, bovinocultura e avicultura. Suportam tecnicamente a produção animal e vegetal transferindo tecnologias voltadas às instalações, à alimentação, manejo e sanidade, novas variedades, nutrição e controle de pragas e doenças. Atuam nas questões relacionadas ao planejamento territorial, uso e ocupação do solo e na identificação de riscos geológicos.
O papel dos institutos públicos de pesquisa precisa ser entendido dentro do conjunto de instituições do sistema paulista de ciência, tecnologia e inovação. Papel que difere daquele que cabe à universidade isoladamente, e ambos se complementam.
Essa visibilidade da ciência hoje não pode ser perdida no pós-pandemia, e está a exigir maior relacionamento das instituições com a sociedade e de maneira contínua para ser efetivamente reconhecida como meio de solucionar problemas. Papel importante, também, terá a seriedade da divulgação da ciência produzida, do ensinar conceitos básicos, da informação de avanços tecnológicos e mesmo de suas limitações para permitir a análise crítica pela sociedade.
Deve-se ter claro, entretanto, que há problemas que afetam os institutos públicos de pesquisa científica do Estado de São Paulo de algum tempo, o mais grave refere-se a recursos humanos. Não se tem reposição de pessoal há muito tempo, os últimos concursos significativos ocorreram em 2003 e a defasagem salarial está presente, evidenciada por salários diferentes para integrantes de mesmas funções e carreira.
Não se defende repor quadros na mesma quantidade de momentos áureos dos Institutos, trata-se de renovar quadros. Hoje, áreas vitais, inquestionavelmente importantes para suprir de tecnologia, conhecimentos e inovação a demanda da sociedade estão reduzidas e mesmo cessaram atividades pela falta de pessoal, outras que deveriam ser objeto de atenção da pesquisa por representarem novos campos ou recursos tecnológicos não são agregadas. Perde-se conhecimento não codificado e o conhecimento acumulado, não se transmite, a tempo, informações, experiencias entre os pares, não se cria a importante cadeia de conhecimentos essencial para efetividade das ações de pesquisa.
E no pós-pandemia, é preocupante a incerteza para que esta situação aponta. E mais, por poder se agravar pela iminente falta de recursos, pelas ações de redução de investimentos, pela alta faixa etária de grande parte dos pesquisadores científicos em atividade, pela escassez de pessoal de apoio, pela ameaça que tudo isso representa para o futuro da carreira de pesquisador científico que tem por base a avaliação sistemática dos integrantes por mérito.
Há de se lembrar, também, o problema de fomento de ciência e tecnologia no âmbito federal afetando desde agora a formação de recursos humanos e o desenvolvimento tecnológico e que não se prevê diferente nos próximos anos. A busca por recursos de fomento mesmo no Estado de São Paulo, competitivos, não se concretiza em montante desejado, pois, com equipes desfalcadas a capacidade de firmar novos compromissos com financiamentos fica limitada.
Esse quadro de conquistas e perdas deve ser objeto de conhecimento da população, e da atenção dos dirigentes e governantes. É o desafio proposto.
João Paulo Feijão Teixeira é engenheiro agrônomo e presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC)

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