apqc1Na sexta-feira da semana passada, 10 de abril, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) encaminhou ofício ao Ministério Público em que acusa o Instituto Adolfo Lutz (IAL) por “indícios de irregularidades” no armazenamento de amostras que deveriam ser submetidas ao teste de coronavírus. Segundo a denúncia, das quase 30 mil amostras recebidas, apenas 7,8 mil haviam sido examinadas. O Cremesp destacou ainda a “baixa capacidade” de o instituto realizar apenas 1,4 mil testes por dia.

O coordenador do controle de doenças da Secretaria Estadual de Saúde, Paulo Menezes, negou as irregularidades apontadas pelo Cremesp e afirmou que o IAL está em processo de aquisição de quatro novos freezeres, para ampliar o armazenamento de amostras, e de contratação de 136 novos profissionais, para agilizar o diagnóstico dos testes.

Em nota, o IAL rebateu também informações publicadas na Folha de S. Paulo no dia 14 de abril. A respeito da ausência de quadros para enfrentar a crise, citou que “gestores, pesquisadores, assistentes, técnicos e auxiliares de outras áreas, como imunologia, bacteriologia, patologia, e produção de insumos voluntariamente, sob coordenação da Diretoria Geral do Instituto, estão participando dos mutirões a fim de dar respostas à população”.

A direção do IAL anunciou também que suspendeu todas as férias previstas a partir de março. “O Governo de São Paulo autorizou apenas o afastamento de funcionários de área meio, ou seja, nenhum colaborador que executa suas atividades nos laboratórios de análises de biologia médica foi removido de seu posto de trabalho, com exceção dos que, eventualmente, apresentaram sintomas da Covid-19”.

Por sua vez, uma servidora do IAL, que pediu para não ser identificada, confirmou que o “aumento absurdo da demanda” trouxe alguns problemas, como a falta de insumos necessários para a rapidez dos exames para coronavírus e outros. Segundo ela, isso poderia ter sido minimizado se o Governo do Estado tivesse realizado concursos públicos para suprir as vagas consequentes das aposentadorias acontecidas nos últimos oito anos. “Não há investimento no instituto e o último concurso aconteceu em 2012. Agora o Estado terá de fazer contratações emergenciais e cada dia perdido conta muito”, criticou.

Como destacou Guilherme Novelli em seu blog, a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) encaminhou ao governador Alberto Goldman (PSDB), em 2007, um estudo da situação dos institutos de pesquisa e laboratórios estaduais, inclusive o IAL. Na época foi feito um alerta quanto ao risco de eclosão de epidemias globais, mas o mesmo foi desconsiderado.

Hoje temos 2,5 mil cargos em aberto entre cientistas, técnicos e outras categorias de servidores, o que representa uma lacuna de 76% de vagas de profissionais atuando no combate à pandemia de coronavírus. Somente no IAL são 172 funcionários a menos do que o necessário. A falta de testes em quantidade suficiente, portanto, não é culpa dos institutos ou dos servidores, mas da ausência de investimentos consistentes em infraestrutura, em tecnologia de ponta e em recursos humanos.

Este último fator consideramos ser o mais importante deles: a não reposição de mão de obra qualificada está no cerne do problema que o Estado de São Paulo tem enfrentado agora com a dificuldade em diagnosticar todos os casos suspeitos de Covid-19. O Instituto Butantan e o Adolfo Lutz têm uma capacidade muito maior para realizar testes para coronavírus do que a capacidade demonstrada atualmente.

A APqC alerta que, sem a contratação imediata de profissionais para realização destes testes, o Estado de São Paulo dificilmente conseguirá zerar a fila dos exames que ainda estão por fazer. A meta do governador João Doria é de 8 mil testes por dia, a partir de 18 de maio.

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