cortella

Para o professor universitário e filósofo Mario Sergio Cortella, a ciência não é infalível, mas é muito menos falível do que a opinião individual de uma ou duas pessoas. Em visita ao Instituto Butantan, o escritor conversou sobre negacionismo, o papel da ciência em um tempo em que o pensamento individual ganha cada vez mais relevância e por que mudar é tão difícil e, ao mesmo tempo, tão importante.

“Sei que a ciência não é infalível, mas ela é menos falível do que eu. E, nesse sentido, a capacidade de depositar na ciência uma possibilidade de apoio é muito mais forte do que ficar apenas na mera opinião”, explicou o filósofo em conversa com a equipe do Portal do Butantan. “Isso significa que a ciência não é a única coisa que importa, mas é aquela que mais protege a nossa possibilidade de segurança.”

Cortella acredita que o negacionismo em larga escala, que é uma das bases dos movimentos antivacina, resulta do afastamento da comprovação. Ele é um fenômeno antigo na história e se refere à pessoa, ou grupo de pessoas, que vai contra as evidências. “No entanto, é preciso lembrar que o negacionismo, de maneira geral, se dá contra coisas que são improváveis, e não impossíveis.” O filósofo elabora: ninguém diz que o ser humano é capaz de voar ao saltar de um prédio, porque basta saltar do prédio para refutar essa afirmação. Mas se uma pessoa disser que a terra é plana, ninguém vai levá-la ao espaço para que ela possa verificar a hipótese.

Nessa lógica, há dois tipos de negacionistas: quem se engana em relação ao que a ciência evidencia e quem é enganado. “As pessoas que se enganam podem ser por desconhecimento, ignorância inocente, e as pessoas que são enganadas são vítimas de trapaça, do interesse escuso de quem o faz propositadamente”, aponta o escritor.

Cortella visitou o Butantan para falar aos colaboradores e colaboradoras do instituto sobre mudança. “Fico absolutamente animado com a condição de poder fazer uma palestra para pessoas que ganham a vida cuidando de vidas”, comentou ele durante o evento. Ao abordar dúvidas e certezas, o filósofo ressaltou que a ciência só avança na dúvida, e que a certeza, ainda que importante, é reiterativa. Para ele, a certeza é necessária, porque sem ela não haveria ação, mas ela mantém as pessoas no mesmo lugar.

Já em relação à mudança em si, Cortella diferencia a rotina da monotonia. Uma organização que trabalha com pesquisa tem uma rotina que garante processos, resultados segurança. Mas quando isso se torna monótono e repetitivo, pode levar à exclusão do diferente. “A mudança é difícil porque produz um certo desequilíbrio momentâneo, mas ela é necessária para que a gente não perca validade e relevância”, conclui ele.

Compartilhar: