A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) vê com muita preocupação a situação em que se encontram os 17 Institutos Públicos de Pesquisa (IPs) vinculados ao governo estadual. Nos últimos 18 meses foram extintos, sem justificativa, dois deles: a Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN) e o Instituto Florestal. Este último teve suas áreas protegidas desvinculadas da pesquisa científica e parte de suas atribuições de pesquisa foram absorvidas pela fusão dos Institutos Geológico e de Botânica, num evidente retrocesso, ao desestruturar instituições científicas relevantes para a sociedade.

As crescentes aposentadorias sem reposição de pessoal, a ausência de concursos públicos e os salários dos servidores das instituições abrangidas pela LC 125/75 sem reajuste há 10 anos, vêm se apresentado como um fator de evasão da massa crítica altamente especializada que compõem os quadros dos IPs. Com isso, pesquisas de décadas estão sendo interrompidas, causando um prejuízo à sociedade que só poderá ser mensurado quando a população precisar de respostas rápidas a problemas que afetam a agricultura, o meio ambiente ou a saúde humana.

A contribuição dos institutos para a superação de momentos de crise está registrada na História e não haveria espaço nesta página para falar de todas. A mais recente continua fresca na memória: a sua atuação no enfrentamento da pandemia provocada pelo SARS-Cov-2, que levou o Estado de São Paulo a assumir o protagonismo na batalha contra o novo coronavírus.

Diferentes institutos estão trabalhando arduamente para erradicar a Covid-19 desde a chegada da doença ao País, demonstrando que seus profissionais estão sempre prontos para enfrentar situações inesperadas de emergência. O Instituto Adolfo Lutz (IAL), referência em vírus respiratórios no Brasil, implantou o diagnóstico de SARS-CoV-2, treinou laboratórios na execução de técnicas moleculares, realizou contraprovas dos exames e contribuiu com o diagnóstico e a vigilância do vírus em todo o Estado de São Paulo.

Em abril de 2020, diante de um cenário epidemiológico em que o número de casos da Covid-19 aumentou de forma vertiginosa, foi constituída a Rede de Laboratórios para Diagnóstico do Coronavírus SARS-CoV-2, gerenciada pelo Instituto Butantan (IBut) e composta por 14 laboratórios parceiros, dentre os quais estão: laboratórios do Instituto Biológico, Instituto Lauro de Souza Lima e Instituto Pasteur. Atualmente, a rede realiza diariamente mais de 20 mil exames diagnósticos para Covid-19 no Estado de São Paulo, totalizando quase 6 milhões de exames realizados desde o início da pandemia. Juntos, o IAL e o IBut já realizaram mais de 30 mil sequenciamentos do genoma completo do vírus, com o objetivo de identificar as variantes e desenvolver novas estratégias vacinais.

Outra ação de grande impacto no enfrentamento da pandemia foi a parceria do Instituto Butantan com o Laboratório Chinês Sinovac para produzir a CoronaVac, com transferência de tecnologia da empresa chinesa. Ela foi a primeira vacina a ser utilizada nos brasileiros e foi determinante para frear o avanço do número de mortes no País. Sem este esforço, a situação pandêmica, que ainda é grave, teria chegado a patamares que não podemos imaginar.

É importante ressaltar que as respostas de caráter emergencial de saúde pública alcançadas pelos institutos só foram possíveis devido à consistência das pesquisas desenvolvidas ao longo dos anos, tanto em ciência básica como aplicada. Dessa forma, nenhuma resposta viria se não houvesse investimento constante em capital humano, uma vez que para o bom funcionamento dos institutos é necessária uma ampla rede interconectada de pesquisadores, assistentes, técnicos de apoio e programas de pós-graduação. Independente da situação política, seja do passado, seja do presente, os IPs sempre tiveram o compromisso de realizar uma ciência consistente e ética, voltada para a sociedade.

Assim, diante da importância do trabalho desenvolvido por estes profissionais, a APqC tem tentado chamar a atenção da sociedade para o fato de que o Estado precisa investir nos institutos e nos cientistas que neles atuam. A pandemia ressaltou a importância destes profissionais e esses merecem ser melhor valorizados.

Patrícia Bianca Clissa é pesquisadora científica do Instituto Butantan e Presidente da APqC

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