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O presidente da Embrapa Celso Luiz Moretti 

Engana-se quem pensa que negacionismo científico se resume ao tema da vacinação contra a Covid. Esse “fenômeno” extrapola o campo da microbiologia, da infectologia, da saúde em geral. Abarca todas as demais áreas do saber, inclusive grandes áreas do conhecimento como as Ciências Agrárias e as Ciências Sociais.

Tampouco o negacionista se resume àquela figura caricata, carregando seus cartazes toscos e adotando posturas violentas e de enfrentamento à polícia. Existem também aqueles negacionistas que trajam terno e gravata, exibem powerpoints sofisticados e são muito sutis e educados. Até se fazem passar por defensores da ciência. Esses são os mais perigosos.

Em matéria publicada no dia 11/02 em O Estado de São Paulo, intitulada “Embrapa busca ficar sócia de empresas e vê economia de R$ 320 mi por ano como novo modelo de gestão”, o presidente da Embrapa comemora, entre outras “conquistas”, o corte de cargos, a venda de produtos para empresas privadas e a redução da dependência da Embrapa do Estado Nacional.

Incrível como um presidente de uma empresa pública como a Embrapa pode comemorar cortes de investimentos como sendo um modelo de gestão. Até aonde pode ir o negacionismo dos austericidas neoliberais? O seu compromisso é de fato com a Embrapa ou com o seu cargo, adulando um presidente da República que já disse, por meio de seu ministro da Economia, que se puder vende até o Palácio do Planalto?

O “terraplanismo” em que vivemos é tão assustador que, daqui a pouco, veremos reitores de universidades públicas comemorarem o retorno dos investimentos na educação superior e em Ciência e Tecnologia no país aos patamares do início do século, tal como foi divulgado essa semana. Haverá quem diga que isso é um avanço, baseando-se nas teses mais absurdas.

Enquanto isso, ano passado, em plena pandemia e desemprego em torno de 15%, o Itaú registrou um lucro líquido recorrente de R$ 26,9 bilhões. A economia tão festejada pela Embrapa é de pouco mais que 1% desse lucro criminoso, auferido às custas do sofrimento do povo que paga juros de até 300% ao ano no cartão de crédito, entre outros crimes assistidos passivamente pelo Estado brasileiro. Já o banco de germoplasma da Embrapa, patrimônio genético da humanidade, de valor imensurável, é tratado como despesa.

Trata-se do beabá da Administração, mas para os negacionistas o óbvio precisa ser dito: a Missão Institucional de uma empresa pública, estratégica aos interesses nacionais, não pode se confundir com a de uma multinacional privada. A visão, os valores que movem uma Embrapa, também, são próprias às de uma instituição que tem como objetivo satisfazer os interesses da nação, da sociedade.

A Embrapa não é movida pelo lucro, pela extração da mais-valia de seus servidores, mas propósitos outros que, inclusive, são de difícil mensuração por envolver parâmetros objetivos e subjetivos relacionados à soberania nacional.

O receituário neoliberal, que se assenta em teses negacionistas fartamente refutadas pela história dos países que as aplicaram, é o esteio da fundamentação da mirabolante reorganização institucional proposta pelo atual presidente da entidade, Celso Moretti. A mesma cantilena de sempre: enxugar custos. Os defensores do Estado Mínimo cada vez mais minguando o pouco que sobrou das empresas públicas brasileiras.

Luciano Rezende, Portal Vermelho

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