buta cobra

Só no Brasil, existem 405 espécies de serpentes. Elas podem viver no solo, nas árvores, na água doce e até na salgada. A vida de uma serpente no seu hábitat é bem diferente da de uma serpente doada ao Butantan – no instituto chegam animais apreendidos pelas autoridades ambientais ou trazidos por pessoas que os encontram em suas casas. O instituto abriga mais de mil serpentes, e todas recebem atenção especial.

Elas são tratadas, estudadas e têm seu soro extraído para a produção de soros antiofídicos, usados no tratamento de acidentes causados por mordidas de cobras. Com o material, são feitas 250 mil ampolas por ano – o que faz do instituto o maior fabricante da América Latina de soros antiofídicos. Por seu papel essencial nessa produção, as serpentes entregues ao Butantan não costumam ser devolvidas à natureza.

“Quando a serpente fica no instituto, ela entra em contato com várias outras, e pode até contrair alguma doença. Não seria bom soltá-la na natureza para que contamine outras. E tem o risco dessa serpente acabar mordendo alguém, caso seja solta. Então é melhor ficar aos nossos cuidados”, esclarece o pesquisador científico Sávio Stefanini Sant’Anna.

De bebê até a velhice

No Butantan, uma serpente ainda é considerada bebê até os três anos. A partir dos quatro, ela se torna adulta. Como o desenvolvimento e crescimento dos répteis depende da alimentação, é mais fácil calcular a idade delas com o acompanhamento dos cientistas. “Aqui a gente tem uma situação controlada, então aos quatro anos já separamos as cobras de lugar para que elas possam viver com os outros adultos”, explica o pesquisador.

O processo de envelhecimento do corpo acontece nas serpentes assim como nos humanos. Na velhice, com o sistema imunológico mais lento, surgem doenças (como tumores, por exemplo). Uma serpente com oito a dez anos já está ficando idosa, às vezes adoece, começa a diminuir a alimentação e para de engordar.

Jararacas vivem em média nove ou dez anos. Cascavéis podem chegar a 15 anos em média. Mas sob observação dos especialistas, e com um cuidado maior, elas podem ter uma vida mais longa, além da possibilidade de terapias contra algumas doenças. “Temos uma jararaca pintada que chegou aqui há 25 anos. Tem estagiário que entra aqui e a gente fala que a cobra é mais velha que eles”, brinca Sávio.

Vírus de cobra

O sistema imunológico das serpentes baixa quando elas são tiradas do hábitat e levadas para outro lugar com o qual não estão acostumadas, seja pela mudança repentina de ambiente ou pelo stress. As bactérias que já estão no organismo aproveitam essa queda da defesa para se proliferar, o que pode causar infecções no pulmão, pneumonia e dificuldades respiratórias.

Outro cuidado é deixar serpentes de espécies diferentes separadas. Existem vírus assintomáticos em jiboias que podem ser mortais para cascavéis ou jararacas. “É muito difícil uma serpente passar um vírus para a outra, já que elas não tossem nem espirram. O que pode acontecer é alguém manipular uma jiboia e usar o mesmo gancho numa jararaca. Aí o vírus pode ser transmitido mais facilmente”, conta Sávio.

Quando uma serpente fica doente dentro do laboratório, ela é separada das outras e mantida em quarentena até melhorar. E se um pesquisador tiver contato com um animal doente, ele também entra em quarentena e é proibido de manusear outras serpentes por um período.

Na hora do lanche

Serpentes são carnívoras. Algumas até comem ovos, mas preferem sempre outros animais na sua dieta. Na natureza, elas caçam aranhas, lacraias, lesmas e sapos. No Butantan, as serpentes contam com um cardápio balanceado, composto por ratos já eutanasiados. Mas cada serpente come uma quantidade exata de roedores.

“Teoricamente ela pode comer até 50% do peso dela. A gente dá de 10 a 20% do peso em alimento. Alimentamos de novo em 30 dias, mas elas podem ficar até dois meses sem comer“, explica Sávio. Se uma serpente ficar três meses de jejum, os tratadores precisam fazer uma alimentação forçada. Teve cobra que ficou até oito meses sem comer.

Como as serpentes não têm dente para cortar o alimento, elas engolem tudo de uma vez só. Por isso, é normal ver seu corpo inchado, com a comida ainda inteira dentro. Na natureza, elas se escondem para fazer a digestão, já que se tornam presas fáceis por não conseguirem se mexer muito nesse período.

Importância para o meio ambiente

A serpente tem uma importante função na cadeia alimentar. Ela se alimenta de anfíbios, lagartos, e de uma série de outros animais que são considerados pragas, como o roedor. Ela também serve de alimento para o gavião e o gambá, por exemplo. As cobras, assim como todos os demais animais, são imprescindíveis para manter o ecossistema em equilíbrio.

Atualmente, as maiores ameaças às serpentes na natureza são o desmatamento, a captura ilegal e o próprio medo dos seres humanos. “Se a pessoa está indo de um sítio para outro e encontra uma serpente, não tem por que fazer mal a ela. Ela está na área dela, no ambiente que ela nasceu, cumprindo o papel dela. Basta a gente desviar e seguir o caminho”, orienta Sávio.

O pesquisador conta que as serpentes têm mais medo de nós do que nós deveríamos ter delas, pois sabem que não vão conseguir se alimentar de uma pessoa adulta. Portanto, a maioria, na presença de uma pessoa, só quer mesmo é fugir. Ao encontrar uma cobra dentro de casa, basta chamar os bombeiros ou a polícia ambiental, que saberão devolver o animal à natureza.

Os acidentes acontecem quando uma pessoa não enxerga a serpente e acaba pisando nela ou perto dela. Assustada, a cobra ataca para se defender. “E essa história de cobra perseguindo gente não existe. A chance de ela sair perdendo enfrentando um animal tão maior que ela é muito grande. Uma cobra sabe escolher bem as batalhas.”

Fonte: Instituto Butantan

Compartilhar: