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Qual a relação entre saúde e sustentabilidade? É muito provável que a resposta mais comum – e também a mais intuitiva – relacione o cuidar do Planeta, respeitando o ecossistema, com maior longevidade da vida humana. Se há mais espaços verdes, por exemplo, maior a qualidade do oxigênio, tão vital à existência do homem. Porém, o engenheiro agrônomo Luis Felipe Villani Purquerio, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), estende o raciocínio sobre esses dois pilares ao falar das ações do laboratório de cultivo indoor, mantido pelo IAC, e que remetem ao conceito de “urban farm”, a chamada agricultura urbana, e suas tendências de cultivo para o futuro.

“A horticultura é a base da segurança alimentar. Quando estudamos meios de produção, focados em uma alimentação saudável e rica em nutrientes, estamos falando em saúde. Também estamos pensando que pessoas e governos terão uma economia no gasto com remédios, por exemplo”, diz Purquerio, para quem sustentabilidade é base do trabalho de pesquisa no laboratório indoor. “É algo que abrange diversas técnicas e que pode ir desde uma estufa agrícola simples até o cultivo indoor, com iluminação artificial e na vertical, e que é uma nova modalidade. Justamente o que estamos pesquisando e produzindo aqui”, conta o pesquisador.

Na visão de Purquerio, o cultivo indoor é uma tendência mundial, especialmente pelo consumo orgânico e em harmonia com o meio ambiente. “Como o IAC trabalha com pesquisa e tem seus os pesquisadores sempre atuando na vanguarda, esse trabalho, do qual sou o líder, cumpre justamente esse papel, de liderar e revelar possibilidades”, completa o engenheiro agrônomo, que montou o laboratório ao lado de sua sala. “Depois de 2019, recebemos muitas demandas sobre o cultivo indoor e fiz questão de fazer porta a porta com a minha sala, para mostrar que é possível, que é algo fácil e que poderá, um dia, ser feito no seu apartamento, na sua casa ou na sua empresa”, reforça.

O que IAC cultiva

O primeiro passo para entender a relação entre sustentabilidade e cultivo indoor de alimentos é conhecer a técnica, que inclui um local de temperatura controlada e iluminação artificial com uso de LED, que tem maior durabilidade, menor custo e pode ser instalado perto das plantas, sem queima-las. A iluminação, por sinal, interfere diretamente no desenvolvimento da planta, razão pela qual seu estudo (incluindo diferentes cores ou comprimento de ondas) é frequente entre os pesquisadores.

O segundo passo é a definição do que é ou pode ser produzido. O IAC concentra seu estudo nas chamadas microverdes, que são plântulas (embriões) em seu estágio inicial de desenvolvimento. “Nós fazemos uma semeadura com muita densidade e elas são consumidas ainda como folhas cotiledonares (que formam o embrião e são, em muitas espécies, um órgão de reserva para o desenvolvimento da planta). Por isso, são supernutritivas, os chamados superalimentos. São plantas que a gente conhece como o repolho (verde e roxo), o rabanete e beterraba. É a mesma folha que a gente compra no mercado, mas em um estágio diferente”, esclarece o pesquisador.

Purqueiro explica que um dos diferenciais da produção indoor, como já dito, é a maneira de cultivo. No IAC, as plantas estão em bandejas adubadas com substratos – a fibra de coco é um deles. A partir daí, o uso da água tem papel fundamental no quesito sustentabilidade, uma vez que, com técnicas como a aeroponia (nebulização), a economia no consumo chega a 95%, se comparada à agricultura tradicional.

“Usamos sistemas que são grandes poupadores de água. Tem também o fato de que, com os insumos, a aplicação de defensivos agrícolas é igualmente reduzida, por as plantas estão protegidas, seja na estufa ou no ambiente indoor. Também as pragas e doenças, em geral, são controladas biologicamente. Então, estamos realmente falando de um cultivo mais sustentável”, acrescenta o engenheiro agrônomo.

O sonho é que, democratizando o conhecimento, a técnica ganhe aplicabilidade nas residências e, desta forma, ofereça uma alimentação mais saudável a uma faixa ampla da população. “O cultivo indoor permite, para quem tem tempo e gosta, a realização doméstica. Com um protótipo, é possível cultivar quatro ou cinco bandejas de alimentos. Note que estamos falando de uma agricultura vertical, não em metro quadrado, mas em metro cúbico. Então, com três andares é possível produzir muita coisa, de três a cinco quilos de microverdes”.

Quem quiser conhecer mais sobre o laboratório pode seguir a página @urbanfarming, no Instagram, onde Purquerio e o também engenheiro agrônomo Matehus Kainan compartilham a rotina do laboratório e os resultados obtidos, como o registro da colheita de mais de 7 quilos de microverdes de girassol, no início de agosto. Também consta na página o registro da visita ao local, no final de julho, do vice-governador Rodrigo Garcia, que foi conhecer o trabalho e a técnica.

Fonte: Correio Popular

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