buta hugo

Meio século dedicado exclusivamente à ciência, com mais de 100 trabalhos publicados. A história de Hugo Aguirre Armelin, pesquisador científico do Butantan, é repleta de casos interessantes, contados por ele sempre com grande entusiasmo. Em reconhecimento a essa trajetória, Hugo, que está há 11 anos no Instituto, ganhou no início do mês o título de Personalidade de Destaque em Oncologia na 12ª edição do prêmio Octávio Frias, iniciativa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e do Grupo Folha para incentivar e celebrar a produção de conhecimento nacional na prevenção e combate ao câncer.

Pai de quatro filhos e avô de quatro netos, Hugo tem 81 anos, mas fala de ciência com a empolgação de quem está começando. Ele era professor de matemática e dava aulas para o 1º ano do Ensino Fundamental quando resolveu trocar a sala de aula pelo laboratório, em 1964. “O professor Francisco Lara, grande formador de cientistas e professores universitários, me pagava 60 dólares por mês para ajudar nas pesquisas no laboratório dele, e isso mudou a dinâmica da minha vida”, explica. Hugo passou a trabalhar com a extração de RNA e codificação de proteína, e passava 10 horas focado neste trabalho. “Era excitante porque era um trabalho de fronteira. O mundo inteiro estava tentando resolver essas coisas. É uma vida interessante desde que você goste do que está fazendo.”

Vida no exterior

Hugo completou o doutorado em 1969 e em 1971 recebeu um convite para trabalhar nos Estados Unidos. O rapaz que saiu da cidade de Capivari, no interior de São Paulo, foi parar em San Diego, na Universidade da Califórnia. Mesmo com os laboratórios e equipamentos sendo iguais no Brasil e no exterior, o cientista percebeu uma grande diferença no modo de trabalho. “Na Europa e Estados Unidos, se alguém precisa de um reagente simplesmente telefona e pede para entregar, e em pouco tempo é entregue. No Brasil, não. Era preciso importar. E antigamente era muito difícil esse processo. Às vezes, chegava seis meses depois e você nem sabia mais em que ponto da pesquisa estava”, relembra.

Foi na Califórnia que Hugo começou um estudo importante. Ele acompanhou de perto o trabalho do bioquímico e vencedor do Nobel da medicina Stanley Cohen, que fez testes com venenos de cobra em camundongos. O norte-americano percebeu que os roedores recém-nascidos abriam o olho mais rápido e tinham dentes que cresciam em uma velocidade maior ao receber o veneno, descobrindo o chamado Fator de Crescimento Epidérmico (EGF), proteína responsável por disparar a multiplicação de células.

“Eu pude ter acesso ao EGF já purificado e com esse EGF fiz um teste com uma hipótese que eu tinha, e funcionou”, explica Hugo. O pesquisador brasileiro chegou ao Fator de Crescimento de Fibroblastos (FGF), capaz de estimular a proliferação da célula, o que está ligado diretamente ao processo tumoral. Foi esse estudo que rendeu ao professor Hugo o título de Personalidade de Destaque em Oncologia da 12ª edição do prêmio Octávio Frias.

Trajetória diversificada

Ao voltar para o Brasil, Hugo Armelin foi chefe do Departamento de Bioquímica (1989-1990), diretor do Instituto de Química (1990-1994) e pró-reitor de pesquisa (1994-1997) da Universidade de São Paulo (USP), além de presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (1989). Ele chegou em 2009, já aposentado, ao Instituto Butantan, onde coordena o Centro de Toxinas, Resposta Imune e Sinalização Celular, com cerca de 100 colaboradores. Mesmo com tanta bagagem, Hugo ainda conseguiu se surpreender na carreira. “Encontrei, no Butantan, pessoas muitas competentes, rápidas e competitivas.”

Apesar das inovadoras pesquisas, a cura para o câncer está longe de ser descoberta. Mas com pessoas como Hugo Armelin, os estudos estão em ótimas mãos. “É complicado falar de uma cura, mas é só olhar para o que temos hoje e ver como fizemos progresso. Hoje existe o tratamento. Antigamente, era difícil uma mulher com câncer de mama sobreviver. Hoje, 95% a 98% retiram o tumor e vivem uma vida normal.”

Conheça dois dos principais trabalhos publicados por Hugo Armelin

Os extratos hipofisários e hormônios esteroides no controle do crescimento celular 3T3 –  A pesquisa mostra que o extrato da hipófise (glândula localizada na parte inferior do cérebro que regula a atividade de outras glândulas, como a tireoide e a suprarrenal) estimula o crescimento celular em mamíferos.

Fator de crescimento de fibroblastos 2, que restringe a proliferação de células malignas – O fator de crescimento de fibroblastos 2 (FGF2) é considerado um fator oncogênico genuíno. No estudo, é relatado que o FGF2 inibe a proliferação e induz o processo natural de envelhecimento das células malignas de camundongos dependente de Ras (gene encontrado frequentemente em tumores na tireoide), já que as proteínas inibiram o aparecimento de tumor nos roedores.

Fonte: Instituto Butantan

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