citros

O Instituto Agronômico (IAC) teve dois projetos de pesquisa nas áreas de citros e de micronutrientes na cultura da cana-de-açúcar agraciados com o Prêmio Yara Boa Colheita Experts, na categoria Perenes e HF. O concurso teve como tema o impacto da nutrição vegetal na produtividade, qualidade da produção agrícola e influência no desenvolvimento da planta. Cada projeto selecionado pelo programa recebeu o apoio para pesquisa no valor de R$ 50 mil, para o período de dois anos. Os resultados alcançados ao final da pesquisa receberam destaque pelo programa e foram premiados Dirceu de Mattos Junior e Estevão Vicari Mellis, na área de nutrição mineral e manejo de nutrientes na agricultura, ambos pesquisadores do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Para os agraciados, essa premiação destaca a competência da equipe do IAC e a eficiência na condução das pesquisas. Mellis relata que elaborou um projeto que avaliasse a adubação foliar com zinco na cultura da cana-de-açúcar. “Embora seja comum o uso desses produtos na cultura, não havia estudos científicos sobre a eficiência e nem informações sobre o melhor manejo”, diz.

A pesquisa envolveu a avaliação da aplicação de doses de zinco na soqueira da cana, a eficiência de fontes e épocas de aplicação. No estudo, foi aplicado sulfato de zinco, sal solúvel muito utilizado pelos produtores, e óxido de zinco micronizado. “Na teoria, pelo fato de o óxido de zinco micronizado ter menor solubilidade que o sulfato, achávamos que essa fonte teria menor eficiência, mas a pesquisa apontou que o óxido de zinco micronizado também é eficaz”, diz. Além disso, avaliou-se também o efeito da época de aplicação.

As doses foram aplicadas em três formas: aplicação única no início da brotação, quando a cana apresentava meio metro de altura; aplicação única no período de máximo desenvolvimento, também conhecido como “fechamento de rua”, quando a cana estava com pouco mais de um metro de altura; e aplicação dividida, em que metade da dose foi aplicada nos dois períodos analisados.

Os experimentos foram instalados na Usina São Luiz, no município de Ourinhos, Agroterenas S/A, em Paraguaçú Paulista e Usina da Pedra, em Serrana, que possuem diferentes ambientes de produção. No município de Paraguaçú Paulista, o experimento foi conduzido em solo arenoso com baixo teor de zinco. Em Ourinhos, o solo possui textura média argilosa com teor médio de zinco. Enquanto no município de Serrana, o solo apresentava teor mais elevado de zinco, pois recebia resíduo de agroindústria de cana. “A pesquisa revelou que a cana-de-açúcar responde à adubação foliar com zinco, desde que o solo apresente teor disponível de zinco de médio a alto, e que seja utilizada a dosagem apropriada”, explica Mellis.

O projeto contou com a colaboração dos pós-graduandos em Agricultura Tropical e Subtropical do IAC: Rafael Andrade, Lucas Ramos e Aryane Ferrreira, além do pesquisador do IAC, Luiz Antonio Junqueira Teixeira, e dos professores, Rafael Otto, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) e Éder Gigliati, do Centro Universitário de Adamantina.

Conclusões

De acordo com Mellis, a pesquisa apontou aumento de seis toneladas de colmos, por hectare, com a aplicação de foliar de zinco, independente da fonte utilizada, sulfato ou óxido micronizado. “Para obtenção desses resultados deve se ater ao fato que o solo precisa apresentar teores de zinco acima de 0,5 miligrama pode decímetro cúbico.

Em relação ao manejo da adubação foliar, a pesquisa demonstrou que houve resposta para todas as formas aplicadas, dose única ou parcelada, nas duas épocas estudadas, início da brotação e fechamento de ruas. O parcelamento da aplicação permite o uso de uma menor dose de zinco: 700 gramas, por hectare, por aplicação. Já a aplicação da dose única, exige a aplicação de 1400 gramas, por hectare de zinco.

As cultivares de cana-de-açúcar utilizadas nesses experimentos apresentavam resistência à ferrugem e à podridão vermelha. No caso da ferrugem, a pesquisa mostrou que houve maior controle com a aplicação parcelada em duas épocas. Para a podridão vermelha, não foi observada resposta. Os resultados foram constatados em todos os locais de estudo. “O zinco na cana-de-açúcar é responsável pelo crescimento celular, por isso a planta tende a crescer mais e desenvolver mais os colmos”, diz o pesquisador do IAC.

Ineditismo

O estudo que avalia o efeito do zinco no controle da ferrugem na cultura da cana-de-açúcar em área de clima tropical é inédito. Embora os primeiros resultados apontem para a eficiência no controle da ferrugem e aumento da produção, o pesquisador ressalta a importância de mais estudos. “A pesquisa foi realizada com variedades de cana resistentes à doença e por isso é necessário avaliar em variedades suscetíveis para verificar os efeitos do zinco nessas condições”, comenta.

O Instituto Agronômico possui programa de micronutrientes em cana-de-açúcar desde 2005. Nesse contexto, o projeto agrega conhecimento e deve colaborar com futuras pesquisas. Segundo Mellis, os solos são considerados com baixo teor de zinco quando apresentam 0,5 miligrama por decímetro cúbico de zinco. Nessas áreas, é recomendada a aplicação de 10 quilos de zinco, por hectare, no solo por linha de plantio.

Atualmente, o maior desafio é a adoção por parte dos produtores desse manejo de zinco em cana-de-açúcar, devido às dificuldades operacionais. “Por se tratar de uma grande quantidade, é necessário um manejo combinado, com aplicações no solo e suplementação através de pulverizações foliares”, orienta. O pesquisador relata que é comum os agricultores aplicarem doses menores ou só aplicarem nas folhas, resultando na falta de eficiência.

Pesquisa na área de citros

No projeto premiado na área de citricultura, os pesquisadores avaliaram a relação entre o estado nutricional dos citros e a resistência a estresses bióticos e doenças causadas por fungos e bactérias. Esses fatores afetam a produtividade e aumentam os custos de produção.

A pesquisa buscou a confirmação de resultados promissores que alunos da Pós-Graduação do IAC tiveram com o manejo da nutrição das plantas com o suprimento diferencial de cálcio para a maior resistência das plantas à Podridão Floral dos Citros (PFC) em condições controladas. “Essa doença afeta as flores e causa sérios prejuízos à produção devido à queda de frutos jovens nos pomares”, explica Mattos. A PFC tem maior incidência em anos que ocorrem aumento da umidade do ar, associada a temperaturas mais baixas do ambiente, que favorecem a infecção do patógeno e, consequentemente a incidência e a severidade da doença.

Segundo Petená, doutorando do IAC, tem se verificado novas contribuições na área de fertirrigação para proteção à PFC. Laranjeiras supridas com maiores doses de cálcio apresentaram flores com estruturação anatômica mais bem desenvolvida, com tecidos de pétalas exibindo células com paredes celulares mais espessas (o que promove a maior resistência das plantas aos fitopatógenos).

O experimento do programa Boa Colheita já foi realizado ao nível de pomar, em Santa Cruz do Rio Pardo, com fertirrigação, com alternância do suprimento de cálcio com o fornecimento dos fertilizantes de nitrato de cálcio, nitrato de amônio ou ainda misturando os dois. O grupo de trabalho que conduziu o projeto explica que também foi realizada aplicação suplementar de nitrato de cálcio via foliar. Os testes de campos tiveram comparação com o uso de controle com fungicida.

“Entre os resultados das técnicas utilizadas foi verificada menor acidificação no solo nas camadas de 0-20 e 20-40 cm de profundidade com o uso do nitrato de cálcio ou com adoção de nitrato de amônio em conjunto com o nitrato de cálcio”, explica Mattos.

Houve melhoria nutricional das árvores, potencial redução de ocorrência de flores sintomáticas para PFC com o uso do nitrato de cálcio ou de nitrato de amônio em conjunto com o nitrato de cálcio. As flores também apresentaram aumento de concentração de cálcio e magnésio ao receberem suprimento foliar de cálcio com o uso do nitrato de cálcio, como visto na pesquisa em condições controladas.

Além disso, o estudo justifica-se pelo aumento de produção na região do extremo Sul do estado de São Paulo. O estudo também sugeriu haver diferença entre tamanho de flores em respostas a tratamentos estudados e a recomendação do uso da irrigação na região para aumento da produtividade, o que deve ser abordado na pesquisa que continua no campo.

Esse projeto envolveu os pesquisadores do IAC: Dirceu Mattos Júnior, Rodrigo Marcelli Boaretto e José Antônio Quaggio, com participação do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), Forbb Irrigação e da Agroterenas S/A. “Essa equipe de trabalho tem demonstrado alta capacidade para solucionar novos problemas para a produção sustentável de citros”, afirma o coordenador da pesquisa, Mattos.

Fonte: Assessoria de Imprensa – IAC

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