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Estudo publicado na Revista do Instituto Florestal inventariou 1.732 árvores de 11 trechos do Parque Estadual da Cantareira (PEC) que haviam sido desmatados para a instalação de torres de energia elétrica. A pesquisa buscou compreender o processo de regeneração natural em áreas que sofreram a intervenção humana. Os resultados deste trabalho de fôlego fornecem subsídios para o manejo e indicam quais espécies podem ser utilizadas para a restauração florestal na área.

O trabalho de campo se iniciou desde a abertura das clareiras. Os pesquisadores do Instituto Florestal acompanharam constantemente as obras, propondo medidas de mitigação dos impactos, evitando cortes desnecessários. Seis meses depois, já puderam observar algumas espécies se regenerando. Quatro anos após o corte das árvores, foram levantadas 140 espécies diferentes com altura superior a 1,30m.

Os pesquisadores verificaram se essas novas árvores brotaram de raízes remanescentes das que foram cortadas ou se estabeleceram-se por sementes.

“A rebrota é um mecanismo que permite a manutenção de indivíduos de espécies da floresta original, existente antes do corte, que se encontrava em fase intermediária de sucessão, predominando espécies secundárias iniciais e umbrófilas (adaptadas para crescer na sombra). As espécies estabelecidas por sementes mostram o início do processo sucessional, que apresenta espécies diferentes que crescem em condição de pleno sol, predominando espécies pioneiras”, explica o pesquisador científico Frederico Arzolla, um dos autores do artigo.

O que é o processo sucessional

Em qualquer terreno não ocupado por vegetação, se estabelece uma condição de vazio ecológico. Essa disponibilidade faz surgirem plantas para colonizarem esse espaço. Ao longo do tempo, as espécies vão se substituindo, cada uma alterando o ambiente para a espécie seguinte. A esse processo, em que ocorre a mudança da vegetação em uma mesma área, é dado o nome de sucessão.

Quando o processo de sucessão começa com uma “comunidade vazia”, é denominado de sucessão primária, pois leva à formação e colonização da vegetação sobre um solo recém-formado. As clareiras podem ter origem natural ou antrópica. Ao serem formadas possibilitam uma mudança nas condições de luminosidade permitindo o desenvolvimento de plantas heliófitas, espécies que precisam de bastante luz do sol para crescerem, também conhecidas como pioneiras. Quando há uma vegetação estabelecida, e ela é totalmente removida por ação humana para uso temporário, a recolonização das plantas somente irá ocorrer após a interrupção daquele uso. Esse processo de reocupação da comunidade de plantas em um local em que elas já habitavam é denominado de sucessão secundária.

No decorrer do processo de sucessão secundária, as espécies heliófitas, ao não encontrarem mais condições adequadas de luz para a germinação de suas sementes, tendem a ser substituídas por outras mais tolerantes à sombra.

De acordo com o pesquisador, além do estudo mostrar a importância das rebrotas para a manutenção de parte da biodiversidade da floresta original, a pesquisa também revelou que essas duas fases sucesionais apresentam conjuntos florísticos diferentes, com pouca semelhança entre si.

“Estudos como este permitem o melhor conhecimento sobre as fases sucessionais e a dinâmica de substituição de espécies, contribuindo para desenvolver modelos para a restauração florestal”, sustenta Arzolla.

Pesquisa científica subsidia o manejo florestal

A pesquisa, em conformidade com o Plano de Manejo da Unidade de Conservação, aponta que há áreas do Parque Estadual da Cantareira com baixa resiliência nos processos sucessionais naturais e que, mesmo após décadas, não houve o restabelecimento da floresta. Ocorreu a dominação por gramíneas invasoras ou lianas de várias espécies. No entanto, os pesquisadores identificaram 60 espécies pioneiras de rápido crescimento, estabelecidas por sementes, que podem ser utilizadas em áreas degradadas e que precisem de restauração.

“O estudo revelou as espécies do início do processo sucessional de importância local. São espécies que crescem a plena luz, abundantes e de rápido crescimento, que proporcionam sombra para as demais espécies, mais exigentes e menos adaptadas à condição de plena luz. Croton macrobothrysPiptocarpha macropoda, Sessea brasiliensisAlchornea sidifoliaCroton floribundusSolanum pseudoquinaAlchornea triplinerviaMiconia cinnamomifolia são alguns exemplos dessas espécies”, esclarece o pesquisador.

Algumas pessoas podem reconhecer essas árvores por seus nomes populares. Na ordem, pau sangue, vassourão, peroba d’água, tapiá, capixingui, caixeta, tanheiro e jacatirão. Mas nomes populares variam de uma região para outra, de modo que muitas vezes uma mesma espécie recebe vários nomes ou um mesmo nome é utilizado para diferentes espécies. Por isso a importância dos nomes científicos, que designam universalmente apenas uma espécie, seja em São Paulo, seja em outro estado ou até mesmo em outro país.

O artigo “Estrutura de clareiras de origem antrópica na Serra da Cantareira, SP, Brasil” está publicado na Revista do Instituto Florestal v.32 n.2 e, além de Arzolla, tem como autores Francisco Vilela e Gláucia de Paula, pesquisadores científicos do Instituto Florestal, e George John Shepherd, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Do campo à bancada

O Parque Estadual da Cantareira protege uma grande extensão de florestas secundárias, formadas após o abandono de antigas áreas de uso. Essas matas centenárias se originaram-se pela regeneração de áreas de antigas fazendas de café, desapropriadas a partir do final do século XIX com o objetivo de proteção dos mananciais da cidade de São Paulo. O PEC também possui remanescentes de floresta madura, que são testemunhos mais próximos da floresta original da região. Por esse histórico, o Parque é um excelente laboratório vivo para o estudo e compreensão das fases e mecanismos que ocorrem desde a regeneração inicial até a maturidade das florestas.

Nesta pesquisa, além do trabalho em campo, a identificação das espécies foi feita por meio da comparação em herbários e consulta a especialistas. O material botânico coletado foi encaminhado ao herbário do Instituto Florestal e foram enviadas duplicatas ao herbário da Unicamp. A importância deste processo de interação da pesquisa de campo com o trabalho de laboratório pode ser verificada em outro artigo de dois autores deste estudo e que levou à descoberta de uma nova espécie da Serra da Mantiqueira em 2017.

Uma pesquisa puxa a outra

O estudo publicado na mais recente edição da Revista do Instituto Florestal é um desdobramento da pesquisa de doutorado de Frederico Arzolla, de onde nasceram também outros artigos publicados:

Estes dois últimos também foram publicados na Revista do Instituto Florestal, que está recebendo artigos científicos para publicação nas próximas edições. Consulte as normas de submissão.

Fonte: Assessoria de Imprensa / Instituto Florestal

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