IF2

A pandemia de Covid-19 infelizmente interrompeu parcialmente as atividades de uso público e educação ambiental nas Áreas Protegidas. Apesar do contato direto com as pessoas não ser possível neste momento, o planejamento e a pesquisa nunca pararam.

Recentemente foram publicados os Anais do V Congresso Brasileiro de Educação Ambiental Interdisciplinar, que aconteceu nos dias 6 a 8 de dezembro de 2019 na Universidade Federal de Sergipe, em Aracaju. Larissa Soares Bollella, aluna de iniciação científica do Instituto Florestal (IF) participou do evento e teve publicada sua pesquisa realizada nas estações Experimental e Ecológica de Mogi Guaçu. Aluna do curso de Agroecologia, da Universidade Federal de São Carlos, a estudante foi orientada pela pesquisadora científica do IF Helena Dutra Lutgens.

O objetivo da pesquisa foi resgatar as memórias ambientais de moradores do entorno dessas áreas e, partir daí, elaborar um plano de interpretação da natureza para os visitantes.

Relatos revelaram impactos ambientais na região ao longo dos anos

Em encontros com esses moradores, foi relatado como a agricultura era antigamente, as mudanças pelas quais passou e as consequências dessas transformações. Os relatos mostraram que as policulturas de subsistência (feijão, milho, abóbora, arroz, hortaliças) foram substituídas por outro modelo agrícola, predominando a monocultura e reduzindo a diversidade de espécies. Uma grande área de Cerrado e Mata Atlântica foi retirada e substituída por espécies exóticas para a exploração de madeira.

Uma empresa de papel e celulose, além da contaminar o Rio através dos dejetos da empresa, que eram lançados sem nenhum tratamento, ocasionou enorme mortandade de peixes daquele curso d’água. Segundo as entrevistas, após o ocorrido a empresa realizou o repovoamento, tentando recuperar a população de peixes. Porém, fez a soltura de espécies que não são daquela bacia hidrográfica, causando alterações nas relações ecológicas e a extinção de espécies nativas.

Após o plantio de citros, irrigado em grandes escalas, a vazão do Rio reduziu em consequência da retirada de água para irrigar os imensos pomares instalados na região. Foi relatada alteração na quantidade e qualidade da água, no ar e na quantidade e diversidade de espécies que eram observadas. Com os relatos, foi possível obter informações sobre animais que eram vistos no passado e que hoje não são mais, quase sempre relacionadas a algum evento antrópico.

A mata ciliar foi removida e substituída por eucalipto na borda do Rio Mogi Guaçu. Com o tempo, sua vazão diminuiu consideravelmente e aumentou o arrastamento das partículas do solo, causando erosão e assoreamento. A instalação das empresas mineradoras que utilizam dragas para remoção de areia acarretou graves prejuízos ambientais, pois removeu parte do leito.

Áreas Protegidas também protegem a memória e a cultura da região

Os dados levantados nas rodas de conversa orientaram uma oficina de planejamento, na qual foram delimitados nas estações Experimental e Ecológica de Mogi Guaçu os espaços adequados  para o uso público e para as atividades de educação ambiental a serem desenvolvidas. Também foram elaboradas placas para serem instaladas ao longo de uma trilha.

A Trilha das Lobeiras foi implantada em uma área em que o Cerrado foi restaurado por meio de um Termo de Compromisso de Restauração Ambiental (TCRA), no qual foram investidos R$1,5 milhão na área e plantadas 45 mil mudas de 60 espécies nativas. Inaugurada em junho de 2019, a trilha promoveu o aumento do número de visitantes na unidade, tendo recebido durante do segundo semestre daquele ano cerca de 500 estudantes. “A trilha é a parte do plano interpretativo que foi executada. Foi proposta do grupo que tivéssemos uma trilha para que as crianças pudessem conhecer o Cerrado”, comenta Helena.

As comunidades do entorno de Unidades de Conservação da Natureza mantêm uma relação íntima e histórica com esses lugares. As questões ambientais fazem parte da formação da identidade dessas pessoas e afetam diretamente seu modo de vida. Com ações como essas, que unem pesquisa científica, manejo e diálogo com a sociedade, as Áreas Protegidas tornam-se refúgios não apenas para espécies e interações ecológicas, mas protegem também a memória e a cultura de uma região. E que tudo isso possa ser passado para as próximas gerações.

O trabalho “Resgate das memórias ambientais para subsidiar a elaboração participativa do plano interpretativo das estações Ecológica e Experimental de Mogi guaçu – SP” também foi apresentado anteriormente no 13° Seminário de Iniciação Científica do Instituto Florestal, realizado entre 31 de julho e 2 de agosto de 2019.

Fonte: Assessoria de Comunicação / IF

Compartilhar: